quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

OPPIA

OPPIA significa Oporto Picture Academy, fica na rua Barão de S. Cosme, 228, no Porto, e abriu ontem com uma exposição de fotografias pinhole, Sol à Sombra, o sonho de Cristiano Pereira, e Os Retratos dos Poetas das Quintas de Leitura, de Patrícia Vieira Campos. Eu fora alertado por texto publicado no jornal Público do dia 28 deste mês, e fiquei a conhecer o projeto que associa fotografias pinhole [ou estenopeica], fotografias à la minute e películas super8, tudo formatos analógicos. Na cave, há espaço para formação, revelação de filmes e uma pequena biblioteca temática. Cristiano Pereira já fez um festival internacional de cinema de super8, no Porto, e passou em diversas universidades europeias com mostras dessas películas.



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Museu Municipal de Penafiel de novo

No final de fevereiro deste ano, descobri o museu municipal de Penafiel. Voltei lá, tal a paixão. Agora, com uma exposição temporária de talheres produzidos na região de Guimarães.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Boas Festas


[presépio da Associação Pró-Infância Santo António de Lisboa (APISAL), em exposição de presépios na Biblioteca de S. Lázaro, Lisboa]

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A história da rádio segundo Álvaro de Andrade (5)


No texto de 1 de setembro de 1970, Álvaro Andrade recordava nas páginas do Diário Popular a primeira estação de rádio a emitir com regularidade em Portugal, CT1AA. Na minha investigação, a estação emitiu entre 1924 e 1937. CT1AA pertencia a Abílio Nunes dos Santos, da família proprietária dos Armazéns do Chiado e vinha de experiências de fonia e radiofonia quando decidiu evoluir para a radiodifusão. Os Armazéns do Chiado chegaram a ter um secção de discos, que, certamente, eram publicitados pela estação. A programação era essencialmente de música clássica - ou séria, como se dizia então.

No texto publicado no Diário Popular, identificam-se os nomes dos locutores (ou speakers, como eram então nomeados): Adriano Lopes Vieira e Mário Garrido Pinheiro. O dono de CT1AA deixou de emitir, primeiro em ondas médias e depois em ondas curtas quando a Emissora Nacional, a estação pública, começou a emitir. Nunes dos Santos voltou às suas experiências de fonia e radiofonia, mais económicas e sem preocupações organizativas, solicitando anualmente autorização para essas atividades.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Évora

Big bands, jazz bands, pequena orquestra onde os sopros tinham importância mas o piano estava lá atrás, como grande instrumento. Como seria o café Arcada, na praça do Giraldo, desde 14 de fevereiro de 1942, quando abriu? Socorro-me do sítio Viver Évora (texto de José Frota): "«considerado um dos melhores do País, com mais de 100 mesas, possuindo frigorífico e outras inovações modernas», foi tida como um acontecimento social de grande impacto no quotidiano citadino. Iniciativa conjunta de António Justino Mexia da Costa Praça, Basílio da Costa Oliveira, Celestino Costa e António Borges Barreto, quatro dos maiores comerciantes eborenses, o estabelecimento foi inaugurado com um «jantar à americana (para famílias)», sendo obrigatório o uso de «trajo de passeio». As inscrições para o repasto efectuaram-se no próprio café ou através do telefone 357, permitindo a selecção dos clientes, que no final brindaram com champanhe e ouviram actuar a Orquestra de Jazz Luz e Vida em «alguns números do seu seleccionado reportório», como salientava o relato do Notícias d’Évora".

Continuo a ler no sítio: "Nos primeiros tempos o Arcada foi frequentado pela burguesia local, pequenos grupos de intelectuais, gente do reviralho, profissionais liberais e estudantes liceais. Os latifundiários e os agricultores frequentavam o Café Camões, à Porta Nova. Mas com a perda de centralidade desta zona e o acrescido ganho de importância da Praça do Giraldo, estes passaram a tomar de assalto o Arcada às terças-feiras, dia do mercado semanal. Em plena Praça e no interior do Café se discutiam e apalavravam negócios, tendo ali chegado a funcionar uma informal bolsa de gado. No seu romance Aparição, o escritor Vergílio Ferreira relata bem o ambiente do Café Arcada quando nele entrou pela primeira vez em 1946, colocando a sua visão na boca do protagonista Alberto Soares. «... acabámos por marcar o encontro para o dia seguinte no Arcada sem que o Moura se lembrasse de que era uma terça-feira, ou seja dia de mercado»".

Para além da porta giratória de acesso pela praça do Giraldo, fascina-me a enorme fotografia da orquestra. Que conhecimentos tinham aqueles músicos? Que temas principais tocavam? Dançava-se com a sua música? Formou-se um público fã? Quanto tempo durou aquela alegria?


sábado, 19 de dezembro de 2015

Os Xutos passaram aqui em casa

Ver e ouvir os Xutos e Pontapés aqui em casa dispensou aflições de arrumar carro ou andar em transportes cheios. No Campo Pequeno, em formato acústico, para um público fã: lenços, cachecóis, camisolas. A tribo dos Xutos é curiosa.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Star Wars

Escreve o Público: "O mais recente episódio de Star Wars está prestes a estrear – e as “marcas de moda e acessórios, de grande consumo ou de nicho, estão a sentir a força” da saga, escreve o jornal de referência na indústria da moda Business of Fashion. Há mochilas, peças de joalharia, canetas, mealheiros, canetas, chapéus, vernizes ou batoms".

Basta ver o grande número de anúncios que precedem a exibição do filme, incluindo relógios. Mas não vi publicidade aos sabres de luz e ao droide BB-8 (cerca de 150 dólares no mercado americano). Não me lembro de ver tanta publicidade, alguma dela associando o filme e a quadra natalícia. Um oportuno casamento de indústrias culturais (ou merchandising oportunista).

Audiências de rádio 2015

Os dados de audiências da rádio a meio deste mês, segundo a Marktest, dão a RFM e a Comercial com os valores mais altos. Por consequência, os grupos Renascença e Media Capital destacam-se. Registo ainda o aumento do share da Antena 1 e da TSF.


Os jornalistas vão desaparecer?

Leio agora no Diário de Notícias: "O número de profissionais com carteira desceu de 6839 para 5621 entre 2007 e 2014. Portugal perdeu 1218 jornalistas em sete anos, segundo dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ). O número profissionais ativos desceu de 6839 para 5621, entre 2007 e 2014, o equivalente a um declínio de 17,8%. Estes resultados devem-se ao "crescimento assustador do desemprego", de acordo com Rosária Rato, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas e representante da CCPJ". O estudo pode ser consultado, na íntegra, na página do Observatório Europeu do Jornalismo.

Que poderei dizer aos meus alunos em abril do próximo ano quando começar a lecionar Estudos de Jornalismo?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Nicolás Muller.Obras-Primas

Depois de Espanha e França, no âmbito do centenário do nascimento do fotógrafo húngaro Nicolás Muller, a exposição a inaugurar na próxima sexta-feira em Cascais pela Fundação D. Luís I integra a programação da Mostra Espanha 2015, organizada pelo Ministério da Educação, Cultura e Desporto de Espanha e pelo festival PhotoEspanha. A exposição, com curadoria de Chema Conesa e produzida pela Comunidade de Madrid, inclui cerca de 70 fotografias a preto e branco que fazem parte do espólio guardado pela filha de Nicolás, Ana Muller, hoje propriedade do Arquivo Regional da Comunidade de Madrid e, na exposição, organizadas cronologicamente entre 1935 e 1981. Nela, veem-se trabalhos iniciais na Hungria, em que denuncia a situação feudal dos camponeses, às reportagens, livros e retratos realizados em Espanha, onde veio a falecer. Antes de se fixar em Espanha, o fotógrafo passou por França, onde conheceu Brassaï e Robert Capa, e ainda por Portugal, onde permaneceu apenas uns meses e realizou um trabalho sobre a zona ribeirinha do Porto, uma das partes da exposição em Cascais (texto da entidade organizadora da exposição).


Nicolas Muller expo 2013_006 NIV RET. Descarregando Sal. Porto, Portugal, 1939

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Benedict Anderson, Scholar Who Saw Nations as ‘Imagined,’ Dies at 79

Benedict Anderson, Scholar Who Saw Nations as ‘Imagined,’ Dies at 79 (http://www.nytimes.com/2015/12/15/world/asia/benedict-anderson-scholar-who-saw-nations-as-imagined-dies-at-79.html?_r=2), by Sewell Chan:

"Benedict Anderson, a scholar of Southeast Asia who transformed the study of nationalism by positing that nations were “imagined communities” that arose from the fateful interplay of capitalism and the printing press, died on Saturday night at a hotel in Batu, Indonesia. He was 79. The death was confirmed by his friend Tariq Ali, who had worked with him at the journal New Left Review and at the publishing house Verso Books. The cause appeared to be heart failure, Mr. Ali said. Dr. Anderson’s best-known book, “Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism,” first published in 1983, began with three paradoxes: Nationalism is a modern phenomenon, even though many people think of their nations as ancient and eternal; it is universal (everyone has a nation), even though each nation is supposedly utterly distinctive; and it is powerful (so much so that people will die for their countries), even though on close inspection it is hard to define. Dr. Anderson believed that liberal and Marxist theorists had neglected to appreciate the power of nationalism. “Unlike most other isms, nationalism has never produced its own grand thinkers: no Hobbeses, Tocquevilles, Marxes or Webers,” he wrote".

Elemento para uma história da rádio do império

Em 1968, programas da rádio portuguesa estendiam-se às então colónias africanas. Aqui, estão dois casos. Um deles é A Voz do Casa Pia, de Rádio Peninsular para Rádio Clube de Angola, Rádio Clube de Moçambique e Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, atual Guiné Bissau. Foi nesse programa que Aurélio Carlos Moreira se estreou na rádio, há já 57 anos. Então, a Casa Pia recolhia crianças órfãs e abandonadas e dava-lhes formação missão; hoje, a sua missão é a promoção dos direitos e a proteção das crianças e dos jovens. Estes jovens tornados adultos espalharam-se pelo país e pelas então colónias em busca de oportunidades de trabalho e realização profissional. O programa era um elo de ligação dos jovens à casa acolhedora. Aurélio Carlos Moreira colabora atualmente com Rádio Sim (grupo Renascença). O outro programa pertencia a Fernando Curado Ribeiro, emitido em Rádio Clube Português e Rádio Clube do Huambo, então Nova Lisboa e hoje Huambo, em Angola, Leitura - Semanário Radiofónico de Divulgação Literária. Por volta de 1949-1950, Curado Ribeiro e a sua mulher Joana Campina tinham ido trabalhar para Angola; daí a antiga ligação a Angola. O programa Leitura teve duração de décadas com centenas de programas e um contacto intenso com autores, com entrevistas, leitura de textos e sonorização de cenas. Curado Ribeiro, além da rádio, foi um conhecido ator de cinema e teatro, tendo pertencido aos quadros do Teatro Nacional D. Maria II.

 



domingo, 13 de dezembro de 2015

Quando a rádio mandava na RTP

O Diário Popular, de 31 de março de 1968, publicava uma notícia sobre a assembleia-geral da RTP. Os corpos gerentes eram: a presidente da assembleia-geral o Posto Emissor de Radiodifusão do Funchal, o Conselho de Administração tinha elementos de Rádio Clube Português e Rádio Renascença e Manuel Bivar (diretor técnico da Emissora Nacional) e o Conselho Fiscal tinha elementos de Rádio Clube de Moçambique e dos Emissores do Norte Reunidos. Por Rádio Clube Português, estava Alberto Lima Basto, falecido pouco depois e substituído por Júlio Botelho Moniz.


sábado, 12 de dezembro de 2015

Sonia Delaunay na Gulbenkian

O painel mural que Sonia Delaunay fez para o pavilhão dos caminhos de ferro na Exposição Internacional de Paris em 1937 Étude pour Portugal tinha cerca de 18 metros de comprimento. Após a exposição três dos quatro painéis desapareceram. Por isso, causa espanto a sua reconstituição na presente exposição na Gulbenkian, O Círculo Delaunay (Sonia e Robert Delaunay), onde aparecem também obras de Amadeu Sousa-Cardoso, Eduardo Viana e José Almada Negreiros. Sonia e Robert Delaunay viveram em Portugal entre agosto de 1915 e dezembro de 1916.


Cores vivas, círculos rodeando as figuras - mulheres do Minho, cenas de trabalho no mercado, um carro de bois, elementos de azulejaria, parece-me que também uma pequena capela. A exposição tem ainda quadros representando mulheres que vendem laranjas, cantoras de flamenco. E L'Hommage au Donateur (1916), da coleção Centre Pompidou, Paris.




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Controlo da informação audiovisual - 40 anos atrás

Entre 26 de novembro e 10 de dezembro de 1975, o Diário Popular não se publicou, acontecendo o mesmo a outros jornais. O golpe militar de 25 de novembro de 1975 controlaria os media. A 11 de dezembro de 1975, faz hoje 40 anos, o Diário Popular reconstituía política, militar e socialmente esses dias, incluindo a nacionalização dos media. O recorte abaixo retrata essa realidade.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Quinta Avenida de Lisboa

Segundo o jornal Público, em texto editado hoje, "Dois quadros descobertos em 2009 originaram um livro sobre Lisboa quinhentista e a Rua Nova dos Mercadores. Naquela artéria confluíam produtos do império e gentes de todo o mundo, transformando a capital portuguesa numa cidade global". O sugestivo título do texto é A Quinta Avenida do Século XVI. Continuo a seguir o texto de Nicolau Ferreira: "No século XVI, a Rua Nova dos Mercadores era uma pequena babel. Nos seus edifícios, moravam italianos, flamengos, andaluzes, portugueses. Enquanto isso, naquela rua da Baixa de Lisboa, cristãos-novos, judeus estrangeiros, escravos vindos de 20 nações africanas, escravos árabes passeavam-se, muitos faziam trocas comerciais. É esta a realidade trazida à superfície no livro recentemente editado no Reino Unido The global city. On the streets of the renaissance Lisbon (A Cidade Global – Nas Ruas da Lisboa Renascentista), editado pelas historiadoras Annemarie Jordan Gschwend, do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar, a trabalhar na Suíça, e Kate Lowe, da Universidade Queen Mary de Londres". A obra, continua a ler-se, teve como ponto de partida dois quadros descobertos numa mansão inglesa, em Oxfordshire, e que as autoras do livro dataram entre as décadas de 1570 e 1620.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Imprensa empresarial em discussão

João Moreira dos Santos, como já escrevi aqui, foi o curador da exposição ainda patente na Biblioteca Nacional. Hoje, no seminário organizado pela SOPCOM e pela APCE, ele foi um dos oradores, traçando a história da imprensa empresarial em Portugal em dois tópicos centrais: censura e politização. Deu exemplos de jornais de empresa do tempo do Estado Novo, que exibiam a indicação "visado pela censura", como outro meio de informação qualquer. O orador destacou três tipos de censura: de conteúdo (prévia), do editor (autorização estatal do lugar de editor) e diretor (autorização estatal do lugar de diretor). A censura seria centralizada no SNI em 1944. O segundo elemento apresentado por João Moreira dos Santos foi o da politização, no Estado Novo com o elogio público das figuras gradas do regime, com fotografias publicadas em jornais de empresa, e já nos primeiros anos da democracia com o apoio à revolução e tendo como editores comissões de trabalhadores ou outras estruturas de participação dos trabalhadores.


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Um local de cultura serve sempre para a troca de ideias

Na biblioteca municipal de Soure pode ler-se mas também organizar uma boa conversa em torno das memórias da rádio. O sol entrava pela janela e permitiu recolher mais dados de um velho profissional com carreira em Angola. Obrigado a ele.


domingo, 6 de dezembro de 2015

sábado, 5 de dezembro de 2015

A história da rádio segundo Álvaro de Andrade (4)

Neste texto de Álvaro Andrade, editado no Diário Popular de 25 de agosto de 1970, o tema foi a locução radiofónica. Olavo d'Eça Leal era uma personalidade multifacetada: crítico de cinema, desenhador, pintor. E entrou para a Emissora Nacional como locutor mas também autor de múltiplos diálogos, que alimentou ao longo de décadas de profissão. Um dos textos iniciais dele foi A Voz da Rádio (depois título de livro e que eu aproveitei, numa espécie de homenagem, no título de livro que publiquei em 2005, mas com a frase no plural). Olavo diria que nem sempre o locutor era compreendido pelos ouvintes, às vezes engana-se (por exemplo, pronuncia mal as palavras), precisa de longo tempo para se formar numa escola de locutores, dada a profusão de conhecimentos a aprender, e tem um ordenado que apenas chegava para viver decentemente.

Álvaro Andrade, também funcionário da Emissora Nacional e chefe de redação em Rádio Semanal à época, desempenhou o papel de crítico do cronista. Não seria melhor ele pedir aumento de salário diretamente ao presidente da Emissora Nacional?



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Nacionalização da rádio foi há 40 anos

Foi a 2 de dezembro de 1975 que o decreto-lei 674-C/75 determinou a nacionalização da rádio em Portugal, acabando com marcas como Rádio Clube Português e Emissores Associados de Lisboa.

O preâmbulo do decreto é muito estranho. Começava por referir as telecomunicações para chegar à rádio, indicando o uso, em condições de precária eficácia, de 34 das 121 frequências de onda média internacionalmente disponíveis. Mais à frente formulava que a quase totalidade dos países europeus concedia exploração da radiodifusão a uma única empresa, destacando países como a Alemanha Democrática, a Checoslováquia, a Hungria e a Rússia, países então com regimes de partido único, e esquecendo a Inglaterra e a Alemanha Federal. A somar à explicação preambular, o articulado apresentava razões de ordem técnica, económica e política.

Ora, a única razão plausível para o decreto-lei fora a última - a política. Isso lia-se mais à frente, de modo cristalino: "é manifesto que tem estado longe de exemplar o comportamento da generalidade das nossas estações emissoras. Apaixonadas e parciais, onde lhes cumpria que fossem serenas, objetivas e isentas, não raro panfletárias, têm chegado por vezes ao extremo limite dos convites à sedição. [...] O Conselho de Revolução e o Governo não poderiam continuar a assistir, sem uma adequada intervenção, à natureza verdadeiramente contrarrevolucionária de algumas das nossas estações emissoras, pese isso à bem intencionada generosidade de alguns dos seus agentes".



Pelo decreto-lei, eram nacionalizadas, à exceção de Rádio Renascença - por causa da Concordata com a Santa Sé - as estações Rádio Clube Português, Emissores Associados de Lisboa, Sociedade Portuguesa de Radiodifusão e Alfabeta. Nascia a Empresa Pública de Radiodifusão, que incluía a Emissora Nacional.

A nacionalização estava prevista desde meados de 1974. Depois, desde setembro de 1975 tornava-se evidente a falta de controlo político da informação, em especial após a tomada de assalto da embaixada de Espanha. Nos dias antes do golpe militar, era visível a perturbação e o aumento de tensão entre os que triunfaram e os que perderam nesse dia. A possibilidade de guerra civil aumentava, com sedes de partidos políticos assaltadas e grupos de revolucionários a guardarem as rádios. O emissor da Rádio Renascença explodira. A Emissora Nacional passou a emissão para o Porto, mas alguns trabalhadores ficaram na rua do Quelhas, a guardar não se sabe muito bem o quê. O móbil direto da nacionalização foi, assim, o golpe militar de 25 de novembro de 1975. Como resultado, só na Emissora Nacional, a purga atingiu cinquenta profissionais, alguns despedidos e outros suspensos.

Duas notas suplementares, a primeira das quais referida no Diário de Notícias, de 31 de outubro de 1975, em que trabalhadores do Ministério da Comunicação Social expressaram voto de desconfiança em Ferreira da Cunha, secretário de Estado da Informação. Um comunicado ligava-o à ditadura derrubada em 25 de abril de 1974, tendo colaborado diretamente com o CDI (Centro de Documentação Internacional), criado em 1966 pelo ministro da Educação e elaborado relatórios com informações fornecidas pela PIDE e pela Legião Portuguesa. O CDI tinha um ficheiro de estudantes universitários. Ferreira da Cunha era colaborador antigo de Costa Gomes, então presidente da República, desde o tempo em que este fora chefe de estado maior das Forças Armadas antes de 1974, o que pode limitar a pressuposição lançada em outubro de 1975.

Outra nota vinha igualmente no Diário de Notícias, de 9 de setembro de 1975, referindo um dissídio na Emissora Nacional no setor desportivo. Em comunicado, “consideram os trabalhadores dos Serviços Informativos e dos Estúdios da Emissora Nacional que o fenómeno desportivo implica um tratamento radiofónico (relatos, elaboração de programas, etc.) que só poderá resultar capaz, se feito por especialistas. A especialização que os signatários reivindicam é facilmente comprovada pela incapacidade dos «repórteres desportivos (?)» que no passado domingo asseguraram a Tarde Desportiva. Consideram, portanto, os subscritores que a função do repórter desportivo (relator) nada tem a ver com a função de locutor, pelo que os serviços desportivos que realizarem deverão ser justamente remunerados, já porque não fazem parte das suas obrigações como locutores, já porque o contrário seria exploração do seu trabalho”. Mais à frente: “Diz o Departamento de Informação (?) que não foi possível resolver doutro modo o conflito de trabalho e que optou pelo recurso a novos elementos, na sua grande parte pouco experimentados, pedindo depois compreensão dos ouvintes para as suas deficiências e acreditando na melhoria da qualidade”. O país estava muito estranho - e perigoso.

O preâmbulo do decreto-lei 674-C/75 estava errado, o que significa: assente em bases falsas. Ao indicar o uso de 34 das 121 frequências de onda média internacionalmente disponíveis. em condições precárias, ignorava a existência e aceitação, desde décadas, desse conjunto de estações. A União Europeia de Radiodifusão zelava bem pela distribuição das frequências em ondas médias, além de que o decreto ignorou totalmente a existência da frequência modulada, que estava a popularizar-se. Mau grado a menor qualidade de emissões das estações minhocas (caso dos Associados de Lisboa), a rádio foi marcada por forte censura durante o Estado Novo. Mas a rádio no geral soube inovar. Rádio Clube Português, por exemplo, foi a primeira estação portuguesa a emitir 24 horas diárias sem interrupção em 1963, pioneira face a vários países europeus como a Inglaterra. Goste-se ou não, a Emissora Nacional criou um estilo musical com o seu Centro de Preparação de Artistas da Rádio - o designado nacional-cançonetismo. A Rádio Renascença criou uma boa rede de emissores em FM que chegava a todo o país. A geração de programas como Em Órbita ou Página 1 e seus locutores e colaboradores não pode ser ignorada neste balanço.

A lei acabou com os excessos, como passar, numa mesma emissão do Programa da Manhã, oito vezes A Internacional [Fernando Serejo (2001). “Rádio – do marcelismo aos nossos dias (1968-1990)”. Observatório, 4: 65-95]. Mas criou uma empresa de radiodifusão excessiva: 2600 trabalhadores e património que incluía um cinema (Nimas), uma editora discográfica (Imavox) e uma exploração agrícola. Se juntar foi complicado, mais difícil foi desfazer, quando a Rádio Comercial se tornou privada pela reforma política de desnacionalização em 1993.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Grupo angolano Newshold sai da estrutura acionista dos jornais Sol e i

Sigo a notícia agora publicado no jornal Diário de Notícias. O grupo angolano Newshold, de Álvaro Sobrinho, vai sair do diário i e do semanário Sol. Mário Ramires, subdiretor do semanário Sol em 2011 para entrar na administração da empresa, demitiu-se hoje do cargo e volta à função de jornalista. A redação, vai ter funções nos dois jornais, sofre cortes nos salários e não haverá pagamento de despesas de deslocação. Dos cerca de 120 trabalhadores, dos quais 80 jornalistas, apenas 66 terão contrato de trabalho na nova empresa, cujos acionistas ainda não se conhecem. Com a reestruturação, o semanário Sol passa a sair ao sábado e o diário i não tem edição ao fim de semana.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Música ao vivo e música gravada na rádio

No seu livro, Crisell (2012) interroga-se: a rádio nasceu para transmitir música ao vivo ou música gravada? Ora, estão aqui dois eixos estruturantes da rádio musical. E o autor distingue os programas em direto e os registos feitos pelas próprias estações, que incluíam gravações comerciais, como os discos de gramofone.

Os primeiros discos de alumínio captavam até 15 minutos de som. Na década de 1930, em especial em 1934, máquinas portáteis de gravar som foram ligadas aos noticiários e documentários na BBC. A prática de programas pré-gravados aumentou durante a II Guerra Mundial, por necessidade de não ter emissões ao vivo e em direto, temendo bombardeamentos. Tal obrigava a BBC a submeter previamente os seus textos ao ministério da Informação. A BBC fornecia também programas gravados para o ultramar, e recebia programas de auditório dos Estados Unidos, casos de Bob Hope, Bing Crosby e Glen Miller.

No pós-guerra, a tecnologia tornou-se melhor, mais barata e flexível. Se, na década de 1960, metade dos programas da BBC eram em direto, em meados da década de 1970 raramente havia já programas em direto.

Leitura: Andrew Crisell (2012). Liveness & Recording in the Media. Hampshire e Nova Iorque: Palgrave

domingo, 22 de novembro de 2015

Universidade da Califórnia oferece-nos a música e o quotidiano de há um século

Com este título, Mário Lopes (Público) oferece-nos um texto sobre o trabalho começado há dez anos na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara: a digitalização do seu arquivo de cilindros. Há "música e gravações amadoras de todo o mundo, da passagem do século XIX para o XX, agora disponíveis para todos ouvirem". Escreve ainda o jornalista: Desde outubro, uma coleção de dez mil cilindros, o formato pioneiro do registo sonoro, reproduzível no fonógrafo que Thomas Edison patenteou em 1877, está disponível para audição e download: UCSB Library. Há algumas músicas portuguesas (canções e outras) no catálogo daquela biblioteca, como O Manjerico, de Medina de Sousa e Pinto Ramos, Maria, Maria, de Eduardo Barreiros, e Agulhas e Alfinetes, de Medina de Sousa [imagem retirada da Wikipedia].

 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O Cabo Submarino num Mar de Conetitividades

O Cabo Submarino num Mar de Conetividades é uma exposição temporária a visitar na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa, perto do Cais do Sodré. Telégrafo, comunicação telefónica, cabo coaxial e de fibra ótica e tecnologias da comunicação são elementos importantes presentes na exposição. Criada em Outubro de 1997, a Fundação Portuguesa das Comunicações tem como membros fundadores o ICP - Autoridade Nacional de Comunicações (ICP-ANACOM), os CTT - Correios de Portugal (CTT) e a Portugal Telecom (PT). A visita guiada foi conduzida por Teresa Salema, membro do Conselho Executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações, licenciada em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e mestre em Gestão e Administração de Empresas.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A fotografia estenopeica em António Campos Leal e a biblioteca de Pacheco Pereira

Hoje, ao final da tarde, António Campos Leal, em A Pequena Galeria, à avenida 24 de julho, 4C, aqui em Lisboa, apresentou o seu livro Luz nos Livros, editado pela Tinta da China. Luz nos Livros foi um projeto de fotografar a biblioteca/arquivo de José Pacheco Pereira usando a técnica fotográfica conhecida por estenopeica (pinhole, em inglês), processo elementar da formação da imagem. Para o fotógrafo, "o desafio foi encontrar essa relação entre a luz do pensamento e a luz que incidia nas suas superfícies, percorrendo livros, estantes, papéis, objetos e mesas".

O livro, um belo objeto estético, inclui um texto de José Pacheco Pereira. Nas paredes da galeria, está uma exposição de Luís Pereira [em baixo, vídeo com parte da intervenção do autor. A captação de imagem e som foi feita através de telemóvel, de onde algumas deficiências no som].


sábado, 14 de novembro de 2015

Deuze em Coimbra

Como comunicador, Mark Deuze é brilhante. Na sessão de encerramento do congresso da SOPCOM, a sua comunicação foi adaptada a partir dos acontecimentos sangrentos de ontem em Paris. Deuze falou do desaparecimento dos media (o videogravador, o telecomando, o lado físico de muitos equipamentos, hoje dentro do telemóvel) e da imersão nos media (o televisor de ecrã curvo para dar a sensação de estar dentro da imagem). Antigo jornalista, ele falou do novo profissional como um dj.

Desta leitura, parece-me que o jornalista já não é o repórter ou o produtor de conteúdos mas uma espécie de misturador de géneros e sem preocupações com a realidade. Contudo, não é essa a atitude das capas dos jornais parisienses e franceses de hoje, num repúdio pela tragédia de ontem. O trabalho do jornalista ainda é sobre a realidade. A visão de profeta de Deuze está a desvanecer-se?


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Apresentação na secção de Rádio e Meios Sonoros - SOPCOM

Coimbra, Escola Superior de Educação. Nair Prata e colegas apresentavam a sua comunicação.

 
No intervalo, foi bom ver muitos dos colegas de investigação na área da comunicação. É o momento central celebratório - o reencontro, com a troca de informações sobre o que cada um faz e investiga. E ponto de partida para novas colaborações. 

Amanhã, sob o título Programar a rádio pública portuguesa no começo da década de 1970. O papel do Conselho de Planeamento de Programas da Emissora Nacional (CPP), falarei desse órgão consultivo interno da rádio pública. Nele assentavam os principais dirigentes da estação, incluindo o presidente da Emissora Nacional, parte da sua direção e os chefes de divisão e repartição de programas, de informação e de música clássica e ligeira. Apesar de consultivo no estatuto, o CPP era o segundo órgão de poder da estação, a quem cabia aprovar a programação semanal da estação pública. Se a direção recebia orientações políticas de cima (presidente do Conselho de Ministros, Secretaria de Estado da Informação), o CPP aplicava essas orientações políticas no terreno, caso da informação e da música emitida. Historicamente, o período correspondeu a parte do governo de Marcelo Caetano (1968-1974), que sucedeu ao longo governo ditatorial de Oliveira Salazar (1932-1968). A investigação decorre da análise qualitativa de conteúdo a 126 atas de reuniões do CPP efetuadas entre Janeiro de 1969 e Dezembro de 1971, totalizando 431 páginas de texto dactilografado.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Teatro radiofónico em 1974

Em 1974, ainda havia teatro radiofónico em Rádio Clube Português, como este recorte do Diário Popular, de 21 de setembro de 1974, mostra. Era uma tempo de experimentação, e o romance de Soeiro Pereira Gomes, Esteiros, era adaptado à rádio, em 23 episódios com quinze minutos cada. Dos atores, destaco Carmen Dolores, Maria do Céu Guerra, Rogério Paulo e Mário Sargedas. A direção de produção pertencia a Fernando Curado Ribeiro.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Museu do caminho de ferro (Madrid)

O Museo del Ferrocarril de Madrid tem como objetivos conservar, estudar e difundir o património histórico e cultural ferroviário. Atualmente, tem mais de 4800 peças que explicam a história do caminho de ferro em Espanha. Tem coleções de comboios a vapor, tração elétrica e diesel, além de salas específicas de relógios, modelismo e infraestutura. Ao domingo, uma feira de venda de comboios em miniatura e acessórios anima o espaço no Passeo de las Delicias.






segunda-feira, 9 de novembro de 2015

5ª Divisão MFA













A sessão de apresentação do livro 5ª Divisão MFA. Revolução e Cultura, de Manuel Begonha, foi feita no dia 22 de outubro passado, na Casa da Imprensa. Begonha (1943), licenciado em Ciências Militares Navais, curso de Engenheiro Maquinista Naval, participou em todo o processo de 25 de abril de 1974 e foi membro da 5ª Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas, onde coordenou as campanhas de dinamização cultural.

Por isso, é importante ler a sua perspetiva da história de Portugal de há 40 anos. A minha pesquisa sobre a história da rádio em particular e dos media em geral conduziu-me ao livro. O primeiro registo da 5ª Divisão data de 28 de junho de 1974; a suspensão da 5ª Divisão seria a 25 de agosto de 1975. Dos nomes com mais impacto que ficaram dessa divisão seriam Varela Gomes, Ramiro Correia, Faria Paulino, Duran Clemente e Bouza Serrano. Este último seria presidente da Emissora Nacional.

Se o primeiro capítulo traça a história da 5ª Divisão e a perspetiva do autor quanto à história de Portugal no período de 1974-1975, os capítulos seguintes seguem aquilo a que Manuel Begonha identifica como as quatro atividades fundamentais: Comissão Dinamizadora Central (que ocupa o maior número de páginas), Centro de Esclarecimento e Informação Pública, Centro de Sociologia Militar e Centro de Relações Públicas. Do trabalho da Comissão Dinamizadora Central, o autor destaca a dinamização cultural nas áreas de artes plásticas e gráficas, teatro e fantoches, música, dança e canto, cinema, circo e apoio literário (p. 41). Begonha destaca a representação gráfica da revolução, que inclui obras de João Abel Manta, Marcelino Vespeira e Armando Alves (p. 48), e as brigadas móveis de cinema popular, coordenados, entre outros, por Vieira Marques e Vasco Granja (p. 56). As três fases das campanhas de dinamização cultural encontram-se apresentadas entre as páginas 60 e 76. Fico-me na descrição do que o autor chama de terceira fase (julho e agosto de 1975), que pretendia a descentralização dos meios de apoio técnico, a criação de órgãos regionais, a alfabetização em dez mil salas de aula e o apoio à reforma agrária (p. 73). Nessa página, Begonha dá conta da contestação militar à ação da 5ª Divisão e do episódio de jovens ligados às campanhas de alfabetização em Bragança, com rejeição popular e grande confusão.

[som de apresentação do livro 5ª Divisão MFA. Revolução e Cultura pelo autor, Manuel Begonha. Gravado com o telemóvel, o som não tem muita qualidade e audibilidade]

domingo, 8 de novembro de 2015

A História segundo José Miguel Sardica

Conforme o título, Verdade e Erro em História, de José Miguel Sardica, trata de História e do seu olhar e interpretação dos acontecimentos. Melhor, sobre a relação entre História e documentos, pelo que o livro abre com uma referência a Paul Veyne. O texto, de oito partes, incluindo a introdução e as conclusões, tem dois capítulos centrais em que identifica verdade, erro doloroso e mentira factual.

Mas o que eu mais gostei de ler foram os capítulos 2, 5 e 7, onde o autor estuda e opõe positivismo - em que história e passado se identificavam como uma só coisa - a história modernista ou tradicional - com forte tónica na pesquisa arquivística e de fontes primárias (p. 25) - e pós-modernismo - com libertação de toda a verdade e obrigação de manter algum grau de objetividade (p. 43).

No livro, há a defesa do segundo modelo, a história modernista, em que a disciplina ou ofício produz e ensina verdades relativas mas não ficcionais ou arbitrárias, fundadas no apuramento de factos objetivos e na sua articulação causal e lógica (p. 16). A partir de factos e das suas fontes, o historiador aproxima-se da realidade do passado (p. 17).  O autor dá conta do conhecimento histórico enquanto matéria relativa e revisitável (p. 76). A crítica ao pós-modernismo é mais visível nas páginas 45-52, embora haja espaço para uma zona de convivência benéfica entre aquele e a história modernista (p. 79).

Além de reconstruir o mais fielmente o passado, ao historiador exige-se que a sua escrita seja elegante e atraente (p. 53).

Leitura: José Miguel Sardica (2015). Verdade e Erro em História. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, 85 páginas

sábado, 7 de novembro de 2015

Braga, ao fim da tarde


Arquivos sonoros

Entre Arquivos aborda, na próxima sessão, o tema dos arquivos sonoros, na Biblioteca António Rosa Mendes, na Universidade do Algarve, em Faro, no dia 28 de novembro, pelas 14:30, com a presença de Pedro Félix. A sessão conta com a parceria do Centro de Estudos Ataíde Oliveira.

Segundo a entidade organizadora do evento: "A frase, já tantas vezes repetida, ainda não produziu o efeito desejado: Portugal é um dos poucos países do mundo sem um arquivo nacional de som. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão próximo de concretizar essa realidade. Nesta comunicação procurarei traçar a história do tratamento do património sonoro em Portugal, com especial enfoque no processo conduzido pelo Museu do Fado visando a constituição do seu arquivo digital. Procurarei apresentar algumas das razões para a sua necessidade, colocar hipóteses para este sistemático esquecimento e sintetizar os projetos a curto e médio prazo — em fase de implementação ou a implementar — com vista à sua concretização".

Pedro Félix é investigador do Instituto de Etnomusicologia - Centro de Estudos em Música e Dança (FCSH-UNL) e colabora com o Museu do Fado, tendo realizado trabalhos sobre músicos e tecnologia, indústria da publicação e património sonoro. Co-coordenou a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX onde publicou mais de 50 verbetes. Integrou a equipa responsável pela elaboração da candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da UNESCO, coordenando e desenvolvendo o trabalho de terreno e o projeto fonográfico. Para mais informações: https://www.facebook.com/Entre-Arquivos-675331035821806/?fref=ts.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Marina Nabais em Barcelona

De Seda, a nova criação da coreógrafa Marina Nabais, estreia amanhã dia 4 de novembro em Barcelona, onde se inaugura o IF Barcelona, Festival. Única presença nacional na primeira edição do IF Barcelona, o trabalho de Marina Nabais é destacado pela gestora do Festival Giulia Poltronieri, em comunicado ao El País, pela sua transversalidade a públicos da infância e adultos – marca presente no trabalho da coreógrafa desde 2008. O festival prolonga-se até 10 de Janeiro de 2016 com vasta programação multidisciplinar (informação e vídeo produzida pela própria coreógrafa).

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Eixos comerciais urbanos

Não quero comparar Madrid com o Porto, dado serem cidades de dimensões muito distintas, mas notar tendências novas.

No passado dia 15 de outubro, na Gran Vía, em Madrid, abriu a loja Primark, o gigante irlandês do low cost, como noticia o El País de domingo. A avenida central de Madrid, além de cinemas e salas de espetáculos, integra outras multinacionais do têxtil como a H&M e a Inditex (melhor: as suas diferentes marcas), levando mesmo ao desaparecimento já nesta década de um dos seus mais emblemáticos cafés, como escrevi aqui. Logo ao lado, as ruas Montera e Fuencarral (já no bairro da Chueca) e a praça do Callao são responsáveis por um grande tráfego de peões, o que eleva o potencial comercial da zona - ou a sua reinvenção.
Já no Porto, a colina junto à torre e igreja dos Clérigos - sem a dimensão territorial da Gran Vía (ou da avenida da Liberdade, aqui em Lisboa) - está a assistir a uma revitalização comercial apreciável, resultado da estética urbana desde 2001, da transformação de antigos armazéns em espaços de convívio (restauração) e da velha praça de Lisboa, hoje igualmente espaço de convívio e de lojas, além do muito recente restauro da igreja dos Clérigos. Por ali, circulam muitos turistas falando francês - com sotaque do Canadá, onde a promoção turística tem sido forte, além do peso dos voos de companhias low cost, visível um pouco mais a leste da cidade, caso da saída de metro da rua Fernandes Tomás, na confluência com a rua de Santa Catarina.

Sobre o comércio na colina dos Clérigos, retiro do jornal Público parte de um texto sobre as lojas Marques Soares: "São 55 anos de história e de presença na baixa do Porto, 55 anos de sucesso, muito espírito de resistência e de crescimento. A Marques Soares abriu a 5 de Novembro de 1960, pelas mãos de António Marques Pinho e Manuel Soares Antunes, para se tornar, ao longo de décadas, numa empresa incontornável do comércio tradicional da cidade. Com portas abertas noutros pontos do país. Os sócios fundadores já trabalhavam juntos, nos Armazéns do Norte, dos quais detinham uma quota minoritária, quando decidiram abrir o seu próprio negócio – uma loja de tecidos, que se comprometia a dar qualidade ao vestuário de quem os visitasse. Hoje, a Marques Soares cresceu, não só na loja onde começou, como por outras ruas do Porto, e outros pontos do país, como Braga, Aveiro ou Beja. [...] Este novo impulso destaca-se também na revitalização que a Baixa portuense tem sofrido nos últimos anos, com impacto visível na zona dos Clérigos, onde a Marques Soares se instalou em 1960. [...] A viragem que acontece actualmente, com a revitalização da Baixa, novas lojas e novos conceitos, é vista com agrado pela Marques Soares".

As lojas de rua e o movimento de circulação das pessoas volta a ser considerado, após um longo período dos centros comerciais, dentro e à volta das cidades. A cultura da Europa reside desde há muito neste tipo de tráfego.

domingo, 1 de novembro de 2015

Alcina

Ópera de Georg Friedrich Händel: numa ilha mágica, a feiticeira Alcina vive com Ruggiero, que, devido a uma feitiçaria esquece Bradamante. Esta, disfarçada de "Ricciardo", chega à ilha e começa a demolir o poder de Alcina. Morgana, a caprichosa irmã desta, igualmente dotada de poderes de feitiçaria, apaixona-se de "Ricciardo".