domingo, 20 de novembro de 2016

Cultura do aperfeiçoamento e história das pessoas

Aparentemente, os dois livros não têm semelhanças mas decidi colocá-los a par na minha biblioteca. A sua leitura deliciou-me, abriu-me horizontes, estimulou-me a escrever e a refletir. José Andrés Gallego (1944) ensinou história contemporânea nas universidades de Oviedo, Léon, Cádiz, ao passo que Robert D. Friedel (1950) ensina história da tecnologia e invenção na universidade de Maryland, não longe de Washington. O primeiro estuda a vida, os espaços vitais, a troca e o fazer, a condição do homem, a relação social entre analfabetos, leitores e sábios, a tolerância, a condição do súbdito, a revolução (e o Antigo Regime), o pensamento e a política nas relações internacionais, a morte (epidemias) e o tempo (relógio). O segundo analisou o arado e o cavalo, a potência (energia), a luz e o tempo, a troca, os quatro elementos (terra, fogo, ar e água), os renovadores (no sentido de aperfeiçoamento) e os engenheiros, artesãos, filósofos e empresários, iluminação, mobilidade, mensagens, ensino (formação), dinâmica, escala e terra e vida.

Neste cruzar de palavras-chave, encontro a razão porque decidi juntar os dois livros, pois espero um profícuo diálogo entre os dois. Portanto, têm muitas semelhanças. Pelas matérias, pelo sentido largo da sua exposição, no primeiro dando manobra aos processos e sistemas, no sentido permitindo a entrega e o reencontro de uma tecnologia e suas aplicações sociais, passando de um grupo ou geração para outro(a), que a melhoram e conseguem fruir mais adequadamente o esforço anterior. Se o primeiro livro atende aos movimentos sociais e lutas (fratricidas, muitas), o segundo alerta para a escassa vantagem de uma tecnologia para o seu inventor, com lucros ganhos por outros (sucessores, concorrentes, empresas). Um e outro apontam para o permanente devir, para a dinâmica social, para a troca entre indivíduos, grupos, sociedades e nações - no tempo e no espaço.

O livro de Andrés Gallego é uma edição renovada de um livro marcante em Espanha e que se debruça sobre o individualismo, a vizinhança, a alimentação e a fome, o interesse e o desinteresse pela cultura e pelas artes, associando geografia, psicologia, biologia e humanidades. O livro de Friedel, finalista no prémio Henri Paolucci / Walter Bagehout de 2008, elucida o contingente do aperfeiçoamento, a sua possibilidade em diversos níveis de ação e indica que a noção de aperfeiçoamento é menos objeto de explicação histórica e mais de observação psicológica. Historia de la Gente trabalha a história da Europa e do continente americano dos séculos XVIII a XX, A Culture of Improvement inicia a sua narrativa na Alta Idade Média e acaba-a em 1974.



Leituras: José Andrés Gallego (2016). Historia de la Gente. Madrid, Ediciones 19, 390 páginas
Robert D. Friedel (2007). A Culture of Improvement. Cambridge, MA, e Londres: The MIT Press, 588 páginas
Imagens das capas: Lorenzo Tiepólo (cerca de 1775), Retrato de tipos populares; Stephen Adam, The Engineers, Museu Glasgow City Council

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