sábado, 1 de outubro de 2016

A despedida da diretora do jornal Público

"Lembro-me muitas vezes da frase que a Cristina Ferreira, minha colega no Público há 27 anos, diz quando tem um artigo pronto a publicar. «Foi o melhor que consegui. Tem de certeza erros… mas ainda não os encontrei». Sempre gostei desta definição de jornalismo. O que fazemos é tornado público apesar de tudo. E dentro das circunstâncias. Sempre imperfeito, partilhamos o nosso trabalho com os leitores todos os dias, a todas as horas. Hoje é o meu último dia como diretora do Público. Calcei estes sapatos transitórios durante sete anos. Secretamente, nunca quis que fossem tantos. Como nas Nações Unidas, nas empresas ou nas câmaras municipais, é fundamental renovar as chefias e encontrar, na frescura de um novo olhar, formas diferentes e melhores de fazer as coisas. Idealmente, com mandatos pré-definidos e conhecidos por todos" (Bárbara Reis, no último dia como diretora do jornal Público).

Mais à frente, Bárbara Reis escreve: "Os jornais são feitos por muitas pessoas. Aqui, somos quase 200. Já estou a ouvir a Teresa de Sousa dizer em voz alta no meio da redacção: «Lá estão vocês com a mania de que somos todos iguais»! Não somos. O nosso querido Miguel Gaspar, de quem sentimos tanta falta, era seguramente diferente. À redação, quero agradecer o esforço, o brio, a inteligência, a cultura e a imaginação. Aos diretores-adjuntos agradeço tudo isso e mais uma coisa: a resiliência".

Uma ou outra vez critiquei aqui o jornal - o jornal que leio com atenção na edição de papel (e também no jornal em linha). A despedida da diretora deixou-me a pensar. Foi um bom texto, a dar conta da efemeridade dos cargos e das posições. Alguém, há muito, me dizia que o jornal acabaria com a diretora. Afinal, ele continua e a diretora que já não é diretora irá desempenhar, com certeza, outras e boas funções - talvez mais resguardadas, sem as pressões dos diversos poderes.

No texto de despedida falta uma coisa, que eu já li num comentário no Facebook: não há uma só palavra sobre o despedimento de jornalistas fundamentais do jornal, porque os custos económicos assim o terão exigido. Ao menos, podia explicitar melhor como se pode fazer jornalismo relevante, incómodo, ético e independente após a saída desses bons profissionais. Eles compreenderiam melhor o que se verificou.

1 comentário:

Rui Luís Lima disse...

Comecei a ler jornais em criança, um familiar tinha uma tabacaria, e foi através dos artigos de opinião e as secções de internacional e cultura, que aprendi a olhar o mundo que me rodeia, nesses tempos em que existiam edições de manhã e de tarde. Fui leitor diário do jornal "O Público" desde o seu nascimento até à partida de Vicente Jorge Silva e depois fui lendo regularmente até chegar esse dia em que vi anunciado para um futuro breve o fim da edição em papel e a aposta no digital, cansado de polémicas desisti deste jornal que era uma referência para mim. Ao ler a carta de despedida da directora Barbara Reis e o editorial de David Dinis em que nos anuncia o regresso de Vicente Jorge Silva decidi voltar a comprar o jornal ao domingo. Tenho um problema, gosto imenso de ler em papel, livros e jornais, embora utilize o digital também para ler e escrever.
Bom dia.