terça-feira, 27 de setembro de 2016

Eduardo Lourenço e papel dos intelectuais no mundo de hoje


Hoje, Mário Mesquita iniciou as suas conferências sobre O Regresso dos Intelectuais em Tempo de Crise, dando lugar a Eduardo Lourenço, professor, ensaísta e filósofo. Durante 35 minutos, ouvimos este homem sábio falar (as notas abaixo são um mero registo de ideias, como apontamentos de uma aula na universidade). A ligação para o som da conferência está em baixo (aumentar o volume do som para ouvir).

De começo, Eduardo Lourenço recordou o primeiro mártir intelectual, Sócrates, aquele que interrogava o outro e pedia explicações das suas razões. Ao contrário do aristocrata Platão, homem rico, Sócrates mercadejava o seu saber ensinando alunos e extraindo daí dinheiro para viver. Sócrates, uma espécie particular de sofista, um misto de intelectual e jornalista, despertou animosidade na cidade de Atenas e seria condenado. Kierkegaard, para criar o seu método filosófico, inspirou-se em Sócrates e nos diálogos socráticos.

Eduardo Lourenço passaria à frente, porque a genealogia do termo intelectual ocuparia muito tempo e centrou-se na crise atual que a Europa e o mundo discutem, iniciada com a bomba atómica no Japão e, mais perto de nós, com a destruição das torres gémeas de Nova Iorque. Alguém quis punir a América para vingar humilhações históricas verdadeiras ou não. Sem se dar muito por isso, e apesar do apocalipse das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, está em curso um desafio de novo tipo ao sistema da civilização ocidental. É certo que uma parte do mundo foi objeto da predação das nações do ocidente, como a China e o Islão, áreas geográficas e culturais muito antigas e de onde irradiou muita da cultura do mundo.

O professor orientou o resto da sua conferência às referências do Islão, brilhante até à conquista de Constantinopla mas enredado e parado a partir daí, fechado no seu mistério e fascínio. Quando Napoleão fez a campanha militar no Egito, ficou encantado com a cultura de 40 séculos das pirâmides. Em romance recente, o já falecido Paulo Varela Gomes (Passos Perdidos, 2016, Tinta-da-China) descreve Betsy, amiga de Napoleão, a falar da descoberta dessa cultura. No mundo da filosofia e da literatura, a admiração pela cultura islâmica seguiria com Chateubriand, Flaubert, Eça de Queirós, T. E. Lawrence.

Hoje, o oriente muçulmano quer refazer a história, recuperar o seu lugar, e sem contemplações. O ocidente tem de ter uma particular atenção, tem de olhar as outras culturas com prudência. Mas não deve seguir a tendência masoquista que se está a verificar em França, onde, num festival sob o signo de Petrarca, os intelectuais daquele país pedem desculpa por antigos ataques e violência. A humilhação não serve para nada. A humanidade inteira é pequena para que hajam culturas que se excluam. A Europa precisa de recuperar uma função mediadora.

No final, perguntou uma assistente à conferência: e qual o papel da Rússia?

[som de Eduardo Lourenço]

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