domingo, 1 de fevereiro de 2015

As histórias do senhor Keuner

Ontem, o narrador do senhor Keuner vestia gravata e colete, fumou meio longo charuto, cujo fumo flutuava no ar por entre a luz vinda da janela à esquerda, pondo e tirando os óculos. Ora, sentado, ora deambulando pela sala, mas também olhando o público, o narrador contava as histórias daquela personagem algo estranha que Bertolt Brecht construiu ao longo de trinta anos. As histórias raramente ultrapassavam a página e reflectiam cenas do quotidiano ou grandes factos mas sem os pormenorizar, de modo que ficavam quase abstractos. O narrador falava ou lia de vários volumes que ia consultando sobre Keuner, que era um misto de professor e filósofo. Por vezes, os argumentos trazidos despertavam ironia, um riso baixinho ou deixavam pensar. Na realidade, a vida tem surpresas a par de rotinas e o indivíduo precisa de estar preparado para as conhecer e enfrentar. Daí, que a peça de Brecht contenha um elemento pedagógico a considerar mais do que o olhar político habitual das suas obras.

O narrador foi interpretado por João Meireles, com encenação de Jorge Silva Melo para os Artistas Unidos.

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