quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Marco Paulo

Não gosto do género musical interpretado por Marco Paulo mas não pretendo fazer uso dessa minha apreciação nas linhas que se seguem. O sociólogo ou o historiador deve olhar para os factos ou estruturas de forma mais objectiva. O importante é compreender como os fenómenos e as tendências ocorrem e as suas razões.

Marco Paulo é nome artístico, pois o cantor nasceu como João Simão da Silva. A primeira vez que ele cantou na televisão foi num programa de Cidália Meireles ainda com o seu nome de nascimento. Nesse programa, a antiga membro do trio Irmãs Meireles dizia defender a música portuguesa. Simão da Silva teve êxito na actuação, o que levou a editora Valentim Carvalho a procurá-lo.

António Calvário, figura do cantor romântico de então, transferira-se para a Belter, com condições que a Valentim de Carvalho não podia oferecer [na mesma altura, Madalena Iglésias também foi para a etiqueta Belter]. Ficando sem o crooner de maior rendimento, a editora viu potencialidades em João Simão da Silva e começou uma operação de lhe arranjar repertório. Em dois sentidos, através de originais de Manuel Paião e Eduardo Damas e das versões de cantigas internacionais com letra adaptada em português. O primeiro disco do novo cantor foi um grande sucesso: Vorrei.

O cantor dos cabelos encaracolados cantaria canções dedicadas a mulheres, com os nomes delas: a Joana, que acabaria por casar com o rival, a Isabel, que jurou amor mas também se afastou, Nina, de tranças morenas, Anita, com os seus blues jeans, a morenita, que ia namoriscando os rapazes e se divertia a dar-lhes falsas esperanças, Susana, altiva que fingia não o ver na rua. E o estrondo veio quando cantou Eu Tenho Dois Amores, uma loura, outra morena. Isto é, histórias de amores fracassados mas igualmente de promessas nem sempre muito duradouras.

Se a mudança de regime político em 1974 acabou com a maior parte dos artistas do nacional-cançonetismo, Marco Paulo ganhou sucesso nos anos seguintes, uma espécie de voz popular rural e semi-urbana face à música urbana de intervenção e politizada. Agora, na semana que fez 70 anos de idade, ele foi motivo de recordação. Cantores de idade mais jovem ocupam o seu lugar de outrora, caso de Tony Carreira. Sobre este, um dia, fiquei admirado: um grupo grande de fãs suas vestiam t-shirts com o seu rosto estampado. Um concerto por ele dado no Campo Pequeno levara essa multidão de mulheres, algumas já de idade madura, a percorrer alegremente os corredores do centro comercial.

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