quarta-feira, 14 de maio de 2014

Noite de Guerra no Museu do Prado

Noite de Guerra no Museu do Prado foi uma homenagem do poeta Rafael Alberti aos milicianos da República que resistiram no cerco a Madrid e morreram na Guerra Civil de Espanha (1936-1939). O tema de Alberti seria o transporte dos quadros do museu para a cave para prevenir a sua destruição. Recordaria o próprio autor: "Num entardecer de Novembro de 1936 fui ao Museu do Prado. [...] Conservava dos quadros, das obras-primas da nossa pintura, uma lembrança como que de tanque soalheiro, de água funda à plena luz, de espelho". Depois, coloca-se a ele e mais a sua companheira, María Teresa Léon, a dirigir a operação e a levar os quadros para fora de Madrid para um destino seguro.

Fundadores da revista El Mono Azul, os dois estiveram envolvidos nessa operação. A Legião Condor, enviada por Hitler para estar ao serviço de Franco, teve como alvos a destruir o museu e outros tesouros culturais da Espanha. Goya, El Greco, Rafael, Ticiano, Tintoretto e outros seriam assim salvaguardados. A trama de Alberti levou-o a lembrar outro momento dramático da história de Espanha, a de 1808, que Goya retratou, a da luta contra o invasor francês.

Poeta galardoado com o prémio nacional de literatura em 1925, Alberti mostrou no teatro a importância da pintura daquele museu emblemático. E diversas figuras representadas seriam retiradas de quadros desse museu, como o fuzilado, o decapitado, o toureiro, o anão, o maneta, o amolador, Adónis, Maja, Marte e Vénus. Numa estrutura de palco simples, com sacos à frente a fazer de defesa perante o agressor, os actores recuperam as histórias dos quadros e ligam-nas à resistência da cultura num momento dramático.

Depois de ver a peça, Brecht quis representá-la no Berliner Ensemble em 1956. Aconselhou uma introdução para contextualizar a acção da peça. Mas morreu antes de atingir esse objectivo, embora Noite de Guerra no Museu do Prado passasse doravante a incorporar esse prólogo. Mais tarde, Mário Barradas, enquanto frequentava a École Supérieure du Théâtre National de Strasbourg (1969-1972), participou num programa que incluía a peça de Alberti. Numa oficina em Portugal trabalhou a mesma peça. Um dos alunos era José Peixoto. Após a mudança de regime político em Portugal, Mário Barradas apresentou a peça nos Bonecreiros (1974). José Peixoto foi um dos actores. Agora, o mesmo José Peixoto faz dois papéis na peça e recorda o seu mestre Barradas.

O canto, a dança, a poesia, as máscaras, a luz e o vestuário tornam a peça num grande momento estético para recordar.

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