sábado, 2 de abril de 2011

MEL [BAL]

Filme turco de Semih Kaplanoğlu (1963, İzmir, Turquia), Mel (Bal) conquistou o Urso de Ouro do Festival de Berlim em 2010. Mel, último filme da trilogia de Yusuf, que inclui igualmente Ovo e Leite, conta é a história do apicultor Yakup (Erdal Beşikçioğlu) que procura implantar as suas colmeias em novos locais de uma longínqua e ainda pouco desenvolvida região do Mar Negro. Um dia, ao subir a uma árvore para relocalizar a colmeia, o apicultor cai.

A mudança de plano, com a introdução do genérico do filme, deixa-nos fixado naquelas imagens, mas as que se seguem contam a história do filho Yusuf (Bora Altaş), de seis anos, a aprender a escrever e a ler na escola primária. O rapaz tem dificuldades em se expressar. A sua gaguez é motivo de troça na turma e ele vê-se marginalizado, não participando nos jogos e nas brincadeiras dos intervalos de aula. A sua mãe Zehra (Tülin Özen), trabalhadora de uma plantação de chá, sofre muito com a gaguez do filho mas não tem força para o levar a vencer a dificuldade, ao contrário de Yakup, que falava baixinho e dizia para o filho não revelar os sonhos que tinha tido.

Pela montagem do filme, vamos sendo introduzidos num universo maior. Primeiro, a oficina do apicultor, onde um plástico forte faz de porta de entrada. Depois, a cozinha simples, onde as três personagens, pai, mãe e filho se deslocam quase sempre de modo taciturno. Na cozinha já há comodidades como água corrente, gás e electricidade. Só mais tarde, nos é mostrada a sala com um sofá ao longo de três janelas juntas. Da casa parte-se para a aldeia e para a montanha. Os caminhos de terra conduzem-nos ao rio, à floresta, à casa no cimo da montanha onde as mulheres rezam e à encosta onde decorre a festa. O ambiente da natureza é o tema mais forte do filme.

O filme explora outra dimensão: a vontade latente de abandonar o campo e ir para a cidade. Zehra pergunta ao filho Yusuf se ele, quando crescer, não quer ir para a polícia. Mesmo no final da escala, o polícia tem um ordenado fixo, protege-se do mau tempo e das incertezas da agricultura. A Turquia moderna estava a nascer.


Na imagem: co-produtor Johannes Rexin, co-produtora Bettina Brokemper, actor Erdal Besikcioglu, realizador Semih Kaplanoglu, actor Bora Altas e actriz actress Tuelin Oezen durante o 60º Berlin International Film Festival em 16.2.2010 em Berlim, na ocasião da atribuição do prémio ao filme Bal (Mel) [foto de Pascal Le Segretain/Getty Images Europe]

Sem comentários: