sábado, 13 de novembro de 2010

O SENHOR DO ADEUS

  • "Todos os Domingos, pelas 20.30, no cinema Monumental, João Manuel Serra (o famoso "Senhor do Adeus") vai ao cinema com Filipe Melo (músico e realizador de cinema amador) e com Tiago Carvalho. Este Blog serve para documentar as opiniões e observações de João Manuel Serra sobre os filmes e sobre a vida. Os filmes terão uma classificação de 0-5 estrelas. É também importante referir que queremos convidar todos os cinéfilos a juntar-se a nós para jantar + cinema aos Domingos à noite no Monumental. Todos os comentários deixados no blog durante a semana serão lidos ao João Serra no Domingo seguinte" (blogue Senhor do Adeus, 26 de Maio de 2009).
Sobre o filme Casamentos e Infidelidades, perguntariam a João Serra: "O que gostou mais no filme"? Resposta: "Achei muita piada à época de 1949. Está muito bem retratada, porque toda aquela época tem assim um bocado daquele pirismo em relação à época de agora, em que é tudo diferente. Há certas coisas, como os trajes delas e a maneira de falar… tudo é um bocadinho piroso naquela época. Acho que está bem retratado. Quer dizer, gostei muito da interpretação dele (Chris Cooper). Acho que até foram bem escolhidos os actores: o casal mais velho. Gostei".



Não conhecia o Senhor do Adeus até ler a notícia do Público de anteontem. O mesmo texto do Público diz: ""Chamam-me o Senhor do Adeus, mas eu sou o Senhor do Olá. Aquele que acena no Saldanha, a partir da meia-noite. Tudo isto é solidão? Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias de casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", escrevia, em Março de 2008, o Expresso sobre João Manuel Serra, salientando: "São quase duas da manhã e os carros não param de lhe apitar. Nem eu de lhes acenar. Só fico triste quando o movimento acaba".

Também não conhecia o blogue Senhor do Adeus, um interessante (para não dizer importante) espaço de estudo antropológico. Quem escrevia no blogue era a dupla Filipe Melo e Tiago Carvalho, mas o autor era o próprio João Serra, como se lê numa das últimas críticas: "Venho um bocadinho chateado do cinema, porque há muito tempo que não via um filme tão mau. Nem percebi o filme, porque isto não tem argumento - não tem nada a não ser um bocadinho de acção e terror. É maçador, os actores são péssimos, fazem uma caras tão exageradas que parecem do tempo do cinema mudo do antigamente, onde se expressavam melhor assim. Antes fosse cinema mudo, porque além disso com tanto tiro era uma barulheira no cinema. Não tenho mais nada a dizer, não tem ponta por onde se lhe pegue. Na minha opinião (que pode ser diferente da vossa!) não devem ver este filme" (Senhor do Adeus sobre o filme Predators).

O homem que dizia adeus aos automobilistas que passavam na zona do Saldanha, Lisboa, que "nunca trabalhou, mas conhece a Europa toda" e "já entrou em dois filmes e até num teledisco" (Diário de Notícias, notícia em Setembro de 2003, a partir do Público), nascido de família abastada, tornou-se um repositório de cultura e gosto através do blogue. Além da personagem criada, com uma certa teatralidade e ternura pelo gesto simples e simpático com que se dirigia a estranhos apressados na via e à noite, há um interior, uma personalidade que reflectia um gosto de grande parte do século de cinema.

As cidades criam, assim, personagens e personalidades que marcam, pela exuberância, pelo exotismo, pela peculiaridade dos gestos ou pelo apreço particular à cidade em que vivem. Podemos dizer que se trata de produções culturais, factor urbano de distinção.

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