quinta-feira, 8 de julho de 2010

CIDADES - 2

António Pinto Ribeiro nasceu em Lisboa e viveu em várias cidades africanas e europeias, diz assim a sua curta biografia exposta na badana do livro É Março e é Natal em Ouadagoudou, já referenciado aqui. Por isso, os textos curtos sobre cidades da África e da América Latina e, em menos quantidade, da Europa, da Ásia e da América do Norte. O subtítulo do livro é livro de viagens.

Confesso que ignorava o nome de algumas dessas cidades, mas fica o inventário de todas sobre as quais escreveu (espero não ter esquecido nenhuma da leitura que fiz): Alexandria, Bamako (Mali), Bogotá, Brasília, Buenos Aires, Cabo Verde, Cidade do México, Dakar, Havana, Inhotim (Brasil), Lima, Lisboa, Maputo, Nova Iorque, Ouagadougou (Burkina Faso), Paris, Pequim, Porto Alegre (Brasil), Rio de Janeiro, S. Paulo, S. Tomé, Sabie (Hermanus e outros sítios na África do Sul), Santiago do Chile, Stonetown (Zanzibar) e Veneza. Do seu texto sobre Alexandria, deixei aqui algumas pistas.

O livro começa com um texto sobre Lisboa e acaba com outro texto sobre esta cidade. O primeiro assinala a sua leitura de um outro livro, de Alexandra Lucas Coelho, Oriente Próximo; o último fala da festa de passagem de ano (2004-2005) no Lux, que lhe deixou gratas recordações. Um livro e uma festa - eis o seu modo de olhar a cidade, não na perspectiva do turista, maravilhado pela arquitectura ou pela cozinha, mas por objectos de cultura. Aliás, o olhar que nos mostra das cidades é invariavelmente dado pela cultura. As cidades são ricas culturalmente, como Alexandria com a sua nova biblioteca, em "que a cultura é um eficaz instrumento para a experiência positiva do mundo e da interculturalidade" (p. 21), Bogotá, que ostenta "as formas estéticas que marcaram o barroco opulento saído da Contra Reforma" (p. 68), e Veneza, onde a empresa de barcos que liga as ilhas decidiu editar 4,5 milhões de livros em papel reciclado e oferecê-los, com a ideia de "desafiar o cidadão que apanha o vaporeto para curtas viagens a ler, no espaço de tempo que a viagem lhe permite, um livro de 12 páginas" (p. 54).

Ou ainda na sua flora, como em Maputo, em que as "acácias rubras floridas [estão] de um lado da avenida e, do outro, jacarandás já sem flores; porque as acácias só florescem quando os jacarandás perdem as flores. É que a beleza de ambas as árvores floridas seria tão excessiva que dificilmente a cidade a suportaria" (p. 48). E quando apresentam uma decadência quase humana, como Stonetown, em que se interroga "Que aconteceu no dia em que tudo se começou a desmoronar? Que dia foi esse? [...] Mas porque não se impediu o processo?" (p. 39) ou em crescimento, como Pequim, onde o "tamanho da cidade pode ser medido pelo tempo que um autocarro expresso demora a atravessá-la de uma ponta a outra: 10 horas" (pp. 10-11). E ainda aspectos estéticos, como quando faz um levantamento das cosas buenas e cosas malas em Havana: dos dois lados coloca as mini-saias.

Leitura: António Pinto Ribeiro (2010). É Março e é Natal em Ouadagoudou. Livro de viagens. Lisboa: Livros Cotovia

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