quarta-feira, 16 de junho de 2010

FRONTEIRA EM MCLUHAN (III)

[continuação da mensagem de 8 de Junho de 2010]

Relembra McLuhan que Harold Innis desenvolveu uma aguda consciência da tradição oral no mundo antigo, isto como resultado dos seus estudos sobre o mundo moderno [Stephanie McLuhan e David Staines (org.) (2005). McLuhan por McLuhan. Rio de Janeiro: Ediouro]. McLuhan afirma que qualquer civilização repousa sempre numa forma escrita, seja qual for. O interesse de Innis pela interacção nas formas escritas e orais da experiência humana pode ter inspirado Eric Havelock no estudo sobre a tradição oral na Grécia antiga e os seus efeitos sobre a modelação da percepção e do comportamento humano no mundo antigo.

Os poetas gregos eram as enciclopédias tribais do tempo da cultura pré-clássica, as quais continham pensamentos e observações mas também técnicas relativas ao modo de conduzir a sociedade, governá-la e controlá-la. Segundo Havelock, os poetas foram os primeiros educadores, constituiram a instituição educacional desse tempo. O livro de Havelock, continua McLuhan, indicava a força de uma sociedade oral, que acolhe e regista técnicas para operar uma sociedade. McLuhan constatava uma semelhança nos comportamentos dos adolescentes do seu tempo face a esse tempo pré-clássico [conferência de 1967]. Ele previa que se estivesse a passar de uma sociedade escrita para uma oral, e a um ritmo mais veloz do que aquele em que os gregos desintegraram o seu culto oral por meio da palavra escrita. Autores mais recentes pegaram nesta posição de McLuhan e saudaram o novo paradigma audiovisual em detrimento do conhecimento trazido pelo livro e elogiaram o SMS (a mensagem via telemóvel).

Voltemos a McLuhan: uma das razões porque os letrados criaram vastas organizações militares no mundo antigo foi porque se tornou possível controlar homens a distância por meio de mensagens e mensageiros. O alfabeto criou o individualismo, mas também organizações imensas, exércitos e impérios, grande salto para um ambiente de informação, embora ler e escrever tivessem começado por ser ocupações de escravos na Grécia antiga. Os romanos levaram o livro a uma posição de dignidade e o cristianismo deu-lhe a sua mais alta consagração.

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