sábado, 19 de junho de 2010

SEMINÁRIO DE CANCLINI




Para Néstor García Canclini, nas décadas mais recentes a teoria da sociedade caracteriza-se por três momentos: 1) teoria das totalidades sociais (macro-sociais), com modos de produção, existência das nações e abarcando totalidades sociais, onde se notabiliza a teoria do campo cultural de Bourdieu, 2) teoria dos pequenos relatos por oposição às grandes narrativas (décadas de 1980-1990), 3) teorias das redes sociais (Luc Boltanski e Eve Chiapello, Le nouvel esprit du capitalisme; Bruno Latour, We have never been modern). No passado, continua Canclini, havia uma relação literal entre produção de bens, representações e consumos; hoje, a maior parte do que se consome não é produzido no país que consome. Daí, a referência à crítica de marcas e logótipos (Naomi Klein, No logo). As condições territoriais continuam a ser importantes, do mesmo modo que a língua, mas a globalização relativizou essas totalidades. Por isso, a última forte influência: Antonio Negri e Michael Hardt, Império).

Parte substancial do texto de Canclini foi dedicado ao estudo de jovens, que ele vem conduzindo no México. O que o levou a falar de recursos e relações formais e informais, e que o aproxima de Latour, com múltiplos actores e redes, o que o afasta do conceito de campo cultural de Bourdieu. As estratégias criativas não são um campo de actividade marginal, reunindo artistas, criadores e cientistas, mas uma distribuidora de modo extensivo. Porém, o facto de ser marginal não evita que o centro, o poder, absorva a novidade e a criatividade. Canclini fala de um tempo, o da sua juventude e maturidade, de pensamento ilustrado, como oposto ao da informalidade, e de quatro etapas levando aquele pensamento à actualidade: 1) articulação audiovisual e digital, 2) relação entre empresas gigantes e pequenas empresas ou projectos, 3) inovação, e 4) consumo de bens culturais (lugares físicos) e acesso (digital).

O antropólogo argentino fala de trendsetters, noção que significa moda, estar na moda, introduzir um produto ou serviço no mercado, promover e divulgar qualidades e méritos, e que transitou do marketing para a sociologia e antropologia. Os trendsetters encontram-se nas tecnologias digitais, desenho gráfico, arquitectura, fotografia, ourivesaria, e individualmente combinam trajectórias de vida, atitudes sociais e culturais em processos formais e informais. Além da criação, os trendsetters são vendedores de produtos culturais novos e portadores de novos valores. E, seguindo Martin Hopenhayn (América Latina, desigual y descentrada, 2005), Canclini conclui que hoje os jovens têm mais qualificações académicas mas enfrentam piores condições no acesso ao emprego.

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