quinta-feira, 3 de setembro de 2009

SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO (III)

O texto de Condorcet da Silva Costa, Alguns aspectos financeiros e orçamentais dos programas de televisão, partiu da ideia comum que o gasto de uma emissão em televisão na RTP em meados da década de 1960 andava à volta de um conto por minuto, valor muito acima da realidade. Apesar de não datado, o trabalho de Costa deve ser de 1967, pois refere-se a dados do ano anterior a esse.

Escreve que em 1957 houve 665 horas de emissão e um gasto total de 18027 contos na RTP, logo o minuto custou 451$00. Já em 1966, o total de horas de emissão atingiu 2930 horas com o custo global de 97165 contos, pelo que o preço à hora foi de 556$00. O autor - que compara os custos de emissão entre a RTP, a BBC e a RAI, ficando o canal português entre a gastadora televisão italiana e a poupada inglesa - indica que as despesas com os programas atingiam 30% do orçamento geral de cada ano, ficando os restantes 70% para custos de pessoal. E destaca os valores por género em 1965: 32500$00 por peça de grande teatro, 40000$00 por programa de variedades, 10500$00 o telejornal, 62000$00 o desporto, 21700$00 os programas filmados estrangeiros.

Há também referências técnicas, caso da introdução de sistemas de gravação. Embora o telerecording fosse adquirido em 1959, o primeiro equipamento de videotape foi comprado em 1964, o que permitiu armazenar programas para emitir posteriormente, no que se chama de stock (por oposição a fluxo, seguindo a terminologia de Patrice Flichy). Em finais de 1966, havia produtos de stock com um valor de 690000$00, cerca de seis vezes o orçamento desse ano.


As expectativas próximas, indica o texto de Condorcet da Silva Costa, seriam o segundo canal e a televisão a cores, concretizadas respectivamente em 1978 e 1980, datas tardias a que não foi alheia a mudança de regime político ocorrida em 1974.

Leitura: Costa, Condorcet da Silva (s/d). Alguns aspectos financeiros e orçamentais dos programas de televisão. Lisboa: Edição da Casa do Pessoal da RTP

2 comentários:

cfd disse...

Já tinha ouvido falar da publicação mas não sabia que era orgão oficial da RTP, RR e RCP. Será que descriminava a EN?

Hoje em dia há tantas rivalidades inóquas. A ida da Luciana Abreu ao programa de dança. O não fornecimento de imagens da TVI para o "Divinas Comédias". Etc etc.

Porque é que as televisões não se juntam para fazer uns prémios televisivos. E já agora as rádios, as companhias de discos, os músicos?

O Zip-zip é de 1969 e o primeiro nº dessa publicação é do ano anterior.

Há países em que os apresentadores tem programas em vários canais e é usual serem convidados de programas de canais distintos. O que interessa é o "star system".

Joao Penha-Lopes disse...

Por mera curiosidade marginal, devo dizer que tendo eu sido o responsável pelo projecto técnico da TVI e respectiva implementação, vim a trabalhar um par de anos mais tarde com Condorcet da Silva Costa que apesar de mais velho do que eu tinha uma mente aberta para a mudança e modernidade que ainda hoje guardo como referência.
João Penha-Lopes