terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O ROSTO FUTURO DO CINEMA

Na edição de anteontem do Observer, Gaby Wood escreveu sobre a revolução do cinema animado. Como ponto de partida, o filme Bolt, a história de um cão que se julgava dotado de super-poderes junto à sua dona Penny e enfrentava terríveis bandidos. Um dia, o cão resolveu sair do estúdio de televisão e descobriu que não tinha nenhum poder mágico. Vi a versão portuguesa, não ouvindo a voz de John Travolta emprestada ao cão, mas diverti-me na mesma.

John Lasseter entrou na empresa de Walt Disney quinze anos depois do fundador falecer. Começou na CalArts, a escola criada por Disney, e foi o segundo aluno a ser admitido, após trabalhar um Verão com um dos responsáveis por desenhar o Pato Donald, arquivando os melhores desenhos e fotocopiando-os para futuros êxitos. Na época de admissão de Lasseter (1981), começava-se a falar da animação assistida por computador, o que gerou muitas discussões internas a favor e contra. Lasseter, que elogiou o novo modelo, acabou por ser despedido. Depois, vê-lo-emos a co-fundar a Pixar. No final de 1985, Steve Jobs, o visionário por detrás da Apple, comprou a Pixar por 5 milhões de dólares, com o estúdio de animação a fazer o primeiro filme totalmente gerado por computador (Toy Story). Como director ou produtor, Lasseter esteve ligado a oito êxitos da Pixar, entre os quais se encontram Monsters, Finding Nemo, The Incredibles, Cars, Ratatouille, Wall-E, que vi quase todos, numa contínua diversão e admiração pelos bonecos.

Entretanto, a divisão de animação da Disney agonizava, de que dei conta neste blogue mais de uma vez, e os seus patrões decidiram trazer a Pixar para o seu interior, incluindo Lasseter, compra que custou 7,7 mil milhões de dólares. Corria o ano de 2006; mais tarde, em 2008, a revista Newsweek colocava Lasseter entre os mais influentes do mundo, à frente de Oprah Winfrey e o Dalai Lama. Wall-E seria nomeado o melhor filme pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles e ganhou, há uma semana, um Globo de Ouro.

Criaram-se muitas expectativas para o nono filme, exactamente Bolt, em três dimensões, que exige a sua visão com óculos especiais. Sucesso da passagem de ano para 2009, os seus produtores esperam encaixar mais de mil milhões de dólares com a sua exibição no cinema e nas outras janelas (vídeo, televisão). Bolt é o segundo filme em três dimensões da Pixar (o primeiro foi Up), preparando-se agora a Pixar para passar para esse formato os principais clássicos da Disney.

O espaço onde habitualmente trabalha Lasseter está animado com imagens de comboios, carros, aviões e barcos do arquivo de Disney, incluindo o pequeno carro azul de 1952 que inspirou Cars. Qualidade é a palavra que Lasseter gosta de usar. E também maravilha - pois cada filme lançado impressiona-nos mais do que o anterior. Uma característica que distingue Disney de Lasseter: aquele dava vida a animais e princesas, este pega em objectos habitualmente inanimados, como um automóvel ou um pequeno computador, e anima-o com sentimentos e vontade. Se quisermos, a Pixar trouxe à Disney uma nova época de ouro, igualmente assente na animação mas com recurso a tecnologias mais poderosas como o computador.

John Lasseter tem 52 anos e é pai de cinco filhos.

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