terça-feira, 22 de julho de 2008

A ANSIEDADE PERANTE UM NOVO MEIO


Historicamente, cada novo meio de comunicação desperta dois tipos de impacto, um optimista, outro pessimista. A isso, Sonia Livingstone designa pelo debate entre liberais e críticos. Apliquemos esta dicotomia ao ciberespaço - por um lado, as crianças com a internet desenvolvem competências muito rapidamente e tornam-se (mais os jovens) os grandes consumidores e criadores, por outro lado, as crianças são seres vulneráveis a uma cultura cada vez mais comercializada.

Vou-me centrar no lado dos efeitos morais, do pânico moral. Violência, estereótipo, exploração comercial, conteúdo pornográfico, reforço de acções agressivos e de comportamentos passivos e acríticos - eis as doenças diagnosticadas por Livingtone quando se estuda o impacto negativo da internet. Mas já os videojogos, o cinema, a televisão, a banda desenhada passaram por este trajecto. Raramente é feito um discurso positivo. Recordo-me, quando estudei a história da rádio nos seus primórdios, de ler alguns discursos e peças jornalísticas optimistas, como o facto de trazerem conhecimento ao indivíduo e harmonia ao lar. Mas trata-se de uma óptica mais rara que a contrária.

Livingstone segue um estudo muito considerado de Stanley Cohen, quando este escreveu sobre os medos que a televisão traria à juventude, no final dos anos 1950, acabando com a ideia de uma idade de ouro da infância inocente. Examinado mais de perto tratava-se de um estereótipo da classe média temendo o efeito da "poluição" das classes populares.

De que modo se poderiam aplicar estes conceitos (e preconceitos) a acontecimentos recentes, como o arquivamento do caso Madie ou dos ciganos versus negros em Loures mais as casas vandalizadas daqueles? Ou dos veraneantes italianos confraternizando numa praia e ignorando os corpos mortos de duas raparigas ciganas? Qual o impacto e a formação de opinião pública através das imagens (manipuladas) da televisão?

Parece-me que, à ansiedade, se junta a aceitação passiva de imagens e perspectivas. É o regresso do velho conceito de audiência.

Leitura de base: Sonia Livingstone (2005). "Media audiences, interpreters and users". In Marie Gillespie (ed.) Media audiences. Milton Keynes: Open University

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