quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

VOLTANDO AO DIGITAL VERSUS ANALÓGICO


1. Os rapazinhos que me servem de observação em análise de videojogos e cultura karaoke foram vistos a jogar o Monopólio, um velho jogo da Majora onde alugar um terreno custa 180 escudos e comprar um hotel no Rossio talvez uns dois contos. Eles lançavam os dados, servidos pela irmã pequena de um deles. Creio que não dominavam bem o jogo, pois não havia grande empreendedorismo. As casinhas vermelhas e os hotéis verdes continuavam dentro da caixa. Fiquei perplexo. Os jogos de computador ou de consola portátil, ficavam, por largos minutos, sem uso. Vá lá, o computador estava ligado e um dos jovens colocou um ficheiro musical do YouTube, embora nenhum deles conhecesse a banda e um ainda solicitou para "pôr" o Titanic. Porquê esta pausa? Alguém lhes ofereceu um jogo quase pré-televisão? Descobriram que há mundo para além do digital? Concluiram que o brincar passa pelos modos analógicos? Viva o analógico!

2. Na insónia que tive, revi o sonho que acabara pouco antes. Não tinha lógica, como costuma acontecer aos sonhos, mas era divertido. Recordei amigos antigos - muito activos e cheios de imaginação. De repente, prolongando a insónia, dei-me conta que o cérebro é digital durante o sono. Explico-me melhor: as ideias fluem dispersas, efémeras e fragmentárias, sem grandes narrativas a suportá-las. Há conexões (os links), imagens, silhuetas, clarões. Por vezes, os sonhos são coloridos, outras vezes, são a preto e cinzentos e brancos, algumas vezes, as figuras são descarnadas e a uma dimensão, outras ainda, têm massa e forma volumétrica. Os impulsos do cérebro são, conclui-se, digitais. Viva o digital!

3. Os franceses e os espanhóis falam de numérico quando se referem ao digital. Numérico diz respeito aos zeros e uns da mensagem informática, no que parece mais preciso. Nós seguimos a palavra inglesa e mais universal - digital. Se quisermos, numérico é mais maquínico e digital, parece contacto superficial. Habituamo-nos a opor digital a analógico, sendo este um equivalente eléctrico de uma actividade humana, algo de cópia homem-máquina, com a máquina a ter uma comportamento antropomórfico. Digital (ou numérico) é a desmaterialização da máquina, a perda da inocência da cópia e a autonomia do mundo da máquina.

4. Talvez, partindo desta última observação, os rapazinhos tenham amadurecido e reflectido na dupla condição do analógico e do numérico - a máquina tem ou não constituição própria? Nesse instante, abandonaram a superfície do ecrã, numérica e fria, pelo mundo sensorialmente mais rico num dispositivo físico a três ou quatro, um verdadeiro espaço acústico e visual, gozando o vagar analógico do tempo. Por um momento, McLuhan triunfou sobre Baudrillard.

Observação: o jogo Monopólio existia num tempo em que não se falava muito dele(s). Ou era uma palavra reservada no Estado Novo?

3 comentários:

Anónimo disse...

Pode não ter nada a ver com o assunto aqui tratado, mas porque a cultura é um “bem” importantíssimo a defender, convido-vos a participarem nos VI Jogos Florais de Avis, que já são uma referência no panorama cultural português. Sendo uma iniciativa da Amigos do Concelho de Aviz-Associação Cultural, o regulamento está disponível em www.aca.com.sapo.pt
Concorram e boa sorte.
Saudações culturais.
P’la ACA,
Fernando Máximo

Elisabete Barbosa disse...

Olá

achei fantástica a ideia de que o nosso cérebro é digital durante o sono!

Rogério Santos disse...

É a sorte de ter insónias luminosas!