terça-feira, 15 de agosto de 2006

TABLOIDIZAÇÃO DOS MEDIA (I)

Um dos textos mais significativos do volume organizado por Colin Sparks e John Tulloch, de 2000, é o de Jostein Gripsurd, intitulado Tabloidization, popular journalism, and democracy.

Gripsurd fornece diversas perspectivas da palavra tablóide, conotada com decadência e quebra de padrões jornalísticos, repercutidos nas funções ideais dos media nas democracias ocidentais. Se há quem avalie o tablóide crítica ou positivamente, o autor traça uma terceira perspectiva. Gripsurd entende que dicotomias como jornalismo "popular" e "de qualidade" não explicam as complexidades da prática jornalística actual, pois ambos são importantes formas de jornalismo.

John Fiske (de que se conhece uma obra de muito sucesso em tradução, Introdução ao estudo da comunicação) tem uma visão muito positiva do jornalismo tablóide. Para este autor, se os tablóides são populares é porque agradam às pessoas sem poder mas mostram desejo de mudar essa situação, desencadeando prazer na sua leitura. Eu estou a pensar no jornal 24 Horas, por exemplo.

A esta visão optimista do tablóide, opõe-se outra, representando pânico moral e receios éticos e políticos. As narrativas são simplistas, afastadas do ideal da idade de ouro do jornalismo. Bourdieu, na sua sociologia do gosto, falara da crítica das hierarquias culturais. O capital cultural não é conhecimento útil e o gosto puro não é competência analítica. O pequeno livro de Bourdieu, Sobre a televisão [panfleto para Gripsurd], é um ataque à comercialização e mostra a decadência do jornalismo televisivo. Segundo Bourdieu, o campo do jornalismo tem sido privado da sua autonomia relativa devido à invasão de forças económicas. O crescimento da pesquisa de mercado na imprensa e da medição de audiências na televisão são pressões acrescidas sobre os ideais clássicos do jornalismo. Agora, imperam o sensacionalismo, a personalização e o curto, o tratamento superficial em qualquer tópico e a ausência de profundidade na cobertura de questões sérias. Há uma orientação crescente em direcção às "estrelas". Dá-se ênfase ao que os franceses chamam fait-divers. O ideal seria, segundo Bourdieu, a televisão adaptar uma estilo análogo ao Le Monde, através de programas de sólidas análises e apresentados com tempo suficiente por pensadores "lentos" (reflexivos).

Tablóide, derivado da palavra tablete, designava inicialmente um formato particular de jornal (igual a metade de um broadsheet). Mas o primeiro tablóide, o inglês Daily Mirror, de 1903, combinava este formato com o destaque a histórias breves, grandes imagens e títulos sensacionalistas. A ligação conotativa entre um dado formato e um dado perfil jornalístico foi estabelecida desde então. O Le Monde e outros tablóides de "qualidade" não alteraram isto. O termo "televisão tablóide" revela o quanto o significado denotativo original de tablóide como jornal de determinado formato foi substituido por conotações de forma e conteúdo - pois não se pode dizer que há uma televisão com metade do tamanho do ecrã.

O significado de jornalismo "tablóide" usa-se hoje para se distinguir do jornalismo "popular". Isto pode levar à distinção, como fizera John Langer (Tabloid television, 1998), entre tablóide, popular e "outro". As "outras" notícias são as que não se relacionam directamente com política, questões sociais e economia. Tremores de terra, acidentes de viação, fogos são "outras" notícias, ao mesmo tempo que as estórias de interesse humano. As notícias sobre crimes são também "outras". Esta categoria contém quer notícias hard quer soft, ambas de informação social.

[continua]

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