sexta-feira, 19 de maio de 2006

TEATRO RADIOFÓNICO E TELEVISÃO (III)

[continuação das mensagens de 13 e 18 deste mês]

No livro Produções Fictícias. 13 anos de insucessos, Inês Fonseca Santos traça o percurso de vida da produtora de humor (e de outros géneros), desde o começo de actividades até ao começo deste ano. Não constitui um texto de reflexão sobre a criação e produção nas indústrias culturais, caso da televisão, mas sim um trabalho descritivo dos projectos abraçados por um grupo de criativos reunidos empresarialmente.

Ao longo das 347 páginas, emerge a figura de Nuno Artur Silva, antigo professor de Português no ensino secundário (Olaias, Lisboa). Antes de ser conhecido nos media, ele mandava textos de humor para a televisão, repetidamente ignorados. Estando a organizar recitais de poesia, música e fragmentos de textos no Jardim Botânico, dois actores abordam-no e, sabendo dos textos do jovem professor (através de José Nuno Martins), pedem-lhe para escrever para um novo programa televisivo (de Joaquim Letria).

Depois, nasceria o Produções Fictícias Apresentam, nome de uma produtora ainda sem existência legal e que criava conteúdos para televisão, parodiando os géneros existentes na televisão. Conjuntamente com Rui Cardoso Martins, Miguel Viterbo e José de Pina - além de Nuno Artur Silva -, os pioneiros de uma aventura que mal começava a despontar. Seguiram-se as colaborações com Herman José (Parabéns, Herman 98, Herman 99, Herman SIC). O livro, aliás, elucida-nos bem acerca da importância de Herman José no arranque e consolidação da produtora de humor, até pelo espaço dedicado às participações nos programas desse homem de televisão.

Os associados das Produções Fictícias (PF) viriam entrar um novo e valioso elemento: Nuno Markl, que tinha uma rubrica no programa na rádio Prok Der e Vier, as aventuras de Abílio Mortaça, vendedor de enciclopédias.

Por volta de 1995, nascia a estrutura jurídica Produções Fictícias, com dois sócios: Carlos Fogaça e Nuno Artur Silva. Os restantes pioneiros do grupo, e outros que se haviam acrescentado, formavam os associados, ocupados apenas com a parte criativa e deixando as questões burocráticas para os dois sócios. Arranjaram um espaço para trabalhar, na travessa da Fábrica de Pentes, 27, às Amoreiras (Lisboa). O Contra-Informação ia de vento em popa e trabalhava-se o Herman Enciclopédia, com as PF nomeadas em 1997 para os Globos de Ouro da SIC e revista Caras. O nome Contra-Informação seria dado por Joaquim Furtado, então director-geral da RTP, que também o "colou" ao horário do principal telejornal da RTP.

Outra aventura com sucesso tem sido o Inimigo Público, suplemento do Público às sextas-feiras e dirigido por Luís Pedro Nunes. Para este, citado no livro, o suplemento nada tem a ver com o jornal, dada a diferença de cânones entre os dois. O director do suplemento destaca mesmo a falta de total sentido de humor do director do jornal (p. 173). A par do programa diário de televisão Contra-Informação, as colaborações no Inimigo Público são as que dão mais prazer aos membros das Produções Fictícias (O Procurador seria o primeiro nome do suplemento humorístico). Mais recentemente, o Público traz um suplemento dominical, o Kulto, orientado para leitores mais jovens e saído da fábrica de Nuno Artur Silva.

Associados às Produções Fictícias, estão os sucessos de O Homem Que Mordeu o Cão, de Nuno Markl, na rádio, e o Gato Fedorento, de Ricardo Araújo Pereira, Tiago Dores, Miguel Góis e José Diogo Quintela, um blogue. Deste, os humoristas saltaram do meio de origem e tornaram-no em programa de televisão, livros e DVDs, numa prova de interligação e sinergias entre várias indústrias culturais. Refira-se que, apesar da associação às Produções Fictícias, nenhuma destas produções leva o seu selo, embora seja a entidade que os agencia e produz.

Nos anos mais recentes, a equipa das Produções Fictícias tem-se voltado para outros géneros além do humor. O livro destaca também alguns dos insucessos da produtora tais como Não És Homem Não és Nada, O Programa da Maria e Paraíso Filmes.

Elementos suplementares: desde há pouco tempo, antes do noticiário das oito da manhã da Antena 1, o humor das PF sucedeu ao infeliz programa da Palmilha Dentada. E, além de um filme em acabamento, as PF criaram uma nova linha de programas, como refere a newsletter de hoje da Meios & Publicidade: "Sob o nome PF/Business, a nova área de negócio das Produções Fictícias destina-se «a empresas, gabinetes de comunicação, elementos dos Conselhos de Administração e a todos os que compreendem a necessidade de comunicar de forma inteligente, actual e apelativa com os seus interlocutores profissionais»".

Leitura: Inês Fonseca Santos (2006). Produções Fictícias. 13 anos de insucessos. Lisboa: Oficina do Livro

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