sexta-feira, 28 de abril de 2006

MUSEUS DE PRAGA (II)

Poderíamos dividir a análise ao Museu do comunismo em três parcelas: 1) localização do museu, a paredes meias com um casino e um restaurante McDonald's (rua Prikope, nº 10, 1º andar, avenida larga e aberta apenas a peões, com grandes lojas de marcas ocidentais e junto à praça de S. Venceslau), 2) cartazes de apelo à resistência face ao capitalismo, naquilo a que se poderia chamar de fase de sonho, e 3) símbolos do poder, como esculturas e bustos, no que os construtores do museu apelidaram de pesadelo, após a falhada Primavera de Praga (1968), de reforma do regime a partir de dentro, e sua queda durante o movimento de abertura dos países do leste europeu às propostas políticas do Ocidente (1989).






No museu, há a reconstituição de espaços: 1) sala de interrogatórios (com telefone a tilintar, máquina de escrever, estante com ficheiros), 2) unidade fabril (produção de metalomecânica), 3) mercearia (consumo básico), 4) sala de aula (formação ideológica). Na última sala, ao lado de bustos retirados de edifícios depois da queda do poder comunista, visiona-se um vídeo dando conta dos acontecimentos que precederam esse momento de viragem, com repressão contra as manifestações de multidões numerosas na praça S. Venceslau por parte das forças armadas.

Os cartazes são o material mais importante para análise no blogue. Desses trabalhos gráficos, faz-se uma leitura denotativa directa: 1) luta contra os americanos, os inimigos principais do regime comunista, 2) ligação das forças armadas à sociedade civil, 3) temas relacionados com o bem-estar dos indivíduos numa perspectiva colectivista, como as férias e as organizações juvenis. As linhas estéticas simples dos cartazes tinham como objectivo a massificação de ideias e como públicos-alvo sectores da população menos endoutrinados. As imagens funcionavam como educadores, numa distinção maniqueista entre bons e maus.









Embora o museu possua uma organização antiga, sem marcação temática vincada e meios visuais de apresentar melhor os objectos expostos, o choque provocado pelas ideias (cartazes) e a realidade (caso dos bustos retirados de praças ou interior de edifícios) possibilita a compreensão do fechamento acrítico do regime e do seu espírito fortemente persecutório.

Na obra Power of images, images of power, resultado de exposição realizada em Praga, de Janeiro a Março de 2005, Václav Belohrasdsky entende, no texto que publicou, que o mundo dos cartazes era uma janela aberta do considerado maravilhoso mundo comunista, com os seus habitantes parecendo estátuas rígidas, logo não reais. Escreve Belohrasdsky: "as imagens e os slogans dificilmente podem ser vistos como uma forma de persuasão; são instrumentos de poder" (p. 21).

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