terça-feira, 29 de novembro de 2005

PÚBLICOS DO CINEMA

A maior parte das investigações ocupa-se em descrever a história do sector ou a estrutura económica nos seus três ramos: produção, distribuição e exibição (Fernández et al., 2002: 47). O mundo dos espectadores não tem sido trabalhado.

cinefilos.jpgNum dos textos mais antigos produzidos em Espanha [Cuadrado e Frasquet, 1999], foi trabalhado o universo de espectadores dos 15 aos 35 anos na província de Valência. Como primeiro resultado, o público foi dividido em três grupos: 1) aficionados, 2) os que assistem por causas de relações sociais, e 3) apáticos. Logicamente, o primeiro grupo é o que frequenta mais as salas de cinema. Os consumidores dos segundo e terceiro grupo elegem os multiplexes, situados nos centros comerciais, com mais frequência que o grupo dos aficionados. Este frequenta mais assiduamente as salas de cinema tradicionais (2002: 49). Entre os aficionados abundam as mulheres e os que possuem níveis de estudo mais elevados. Ao contrário, os que assistem por razões sociais são maioritariamente do sexo masculino e também mais jovens. Nos três segmentos predominam indivíduos de rendimentos médios.

Nos estudos anglo-saxónicos, começou-se a pôr em destaque a influência das condições e características das salas de projecção e de alguns serviços periféricos sobre a assistência do público. Isto levou Cuadrado e Frasquet a darem importância às condições técnicas (conforto, condições do ecrã, som e imagem) e frequência das estreias.

Outros trabalhos [Férnandez, 1998; Redondo, 2000] usaram a metodologia das tabelas de contingência. No primeiro, surgem informações sobre características socioeconómicas do entrevistado (idade, estado civil, nível de estudos) e sobre a sua história profissional (relação com a actividade produtiva, experiência no posto de trabalho, empregos anteriores). O segundo é um inquérito de opinião sobre diversos temas de carácter sociológico. Entre eles introduziu-se uma pergunta relativa a hábitos de lazer do indivíduo, incluindo o consumo de alguns bens de consumo cultural.

Dos resultados, conclui-se que o cinema é um assunto de jovens. As salas alimentam-se principalmente de estratos de população menores de 30 anos, enquanto a presença de maiores de 45 anos é mínima e, a partir dos 60, é residual. O nível educativo também é uma qualidade muito relevante para caracterizar o espectador. A sua incidência sobre a assistência é positiva e crescente. Consequentemente, os indivíduos com estudos universitários são os que mostram maior interesse. No sentido contrário, as responsabilidades familiares convertem-se num dos maiores obstáculos à ida ao cinema. As actividades do lar e a presença de filhos menores e outras pessoas dependentes reduz os índices de presença (2002: 51).

Desde os anos 1970 tem-se produzido um fenómeno de reconversão das salas de cinema, desaparecendo progressivamente os grandes locais tradicionais, com um único ecrã, passando a haver outros espaços com salas múltiplas. E, se os anos 1980 foram os dos mini-cinemas, os anos 1990 representaram o momento dos multiplexes e dos megaplexes, localizados nos grandes centros comerciais, ligados às novas tendências de lazer da população. As novas salas, ainda que de dimensões mais reduzidas que as tradicionais mas em número elevado e mais confortáveis, permitiram recuperar o número de espectadores.

Os autores do livro agora em referência trabalharam ainda sobre um anuário de hábitos de consumo cultural, que inclui artes cénicas, discos, audiovisual, leitura e outras actividades de lazer, usando tabelas de contingência sobre a óptica do consumidor. Assim, foram empregues variáveis como idade, sexo, nível educativo, responsabilidades familiares e classe social entre outras, procurando-se saber a atitude do indivíduo perante os bens culturais e as razões que motivam a escolha de um produto ou outro e o interesse que proporciona a escolha.

Quais as razões que levam muitos potenciais espectadores a não irem ao cinema? Há quatro razões: 1) televisão, um poderoso substituto do cinema, 2) barreira económica, que pesa nos mais jovens, 3) falta de infra-estruturas cinematográficas, e 4) ausência de cinemas em muitas localidades. À concorrência da televisão - onde se podem ver noticiários, filmes e reportagens - juntam-se o vídeo e o aluguer de filmes vídeo (2002: 57).

Leitura: Víctor Fernández, Juan Prieto, Cristina Muñiz e Rubén Gutierréz (2002). Cinéfilos, videoadictos y telespectadores. Madrid: Fundación Autor, pp. 47-58

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