terça-feira, 15 de novembro de 2005

A Construção do Olhar

Hoje, ao fim da tarde, foi apresentado o livro coordenado por José Carlos Abrantes, A construção do olhar, na livraria Bertrand (Picoas Plaza, Lisboa). O livro agora editado, pertencente à colecção CIMJ/Livros Horizonte, resulta das intervenções num curso com aquele título e organizado por José Carlos Abrantes, no convento da Arrábida, de 23 a 25 de Agosto de 2000.

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Incluem-se textos do organizador e de Monique Sicard (televisão), Didier Epelbaum (provedor de televisão), Renaud Gilbert (provedor da rádio), Eduardo Cintra Torres (crítica de televisão), Serge Tisseron (as imagens e a construção da criança), Hannah Davies (como as crianças são representadas na televisão), Cristina Ponte (olhares das crianças) e Jean-Pierre Esquenazi (públicos).


A apresentação do livro, para além do organizador e de dois autores de textos - Cristina Ponte (professora da Universidade Nova de Lisboa) e Eduardo Cintra Torres (crítico de televisão no Público e professor na Universidade Católica) -, contou com Eugénio Lisboa (à altura do evento director dos cursos da Arrábida), Leonor Areal (cineasta e que se prepara para estrear o filme Doutor Estranho Amor) e Bárbara Coutinho (responsável dos Serviços Educativos do Centro Cultural de Belém).

Enquanto os intervenientes no encontro da Arrábida refizeram o seu olhar sobre o ocorrido há cinco anos, Leonor Areal e Bárbara Coutinho deram contributos a partir dos seus olhares profissionais, resultando uma multiplicidade de pontos de vista que, sumariamente, coloco nas linhas seguintes.

Assim, se Eugénio Lisboa contou uma velha história passada entre Wittengstein e Popper em colóquio organizado por aquele e cuja memória foi produzida por este, num apelo à re-construção, Cristina Ponte falou da marca do tempo que um texto produz quando se volta a ele. Se o lado da recepção tem sido o mais estudado, importa também perceber o que profissionais e empresários pensam sobre o que produzem e, do mesmo modo, realçar os olhares das crianças, perspectiva que animou, em 2000, Serge Tisseron e Hannah Davies (ver textos editados no livro). Cristina Ponte anotou ainda o desinvestimento feito nos últimos anos em termos de programação (de qualidade) para crianças e adolescentes.


Eduardo Cintra Torres preferiu evocar as boas memórias do encontro, da informalidade e da importância do mesmo, quer quanto à qualidade das intervenções quer quanto ao facto da cultura francesa ter estado ali muito presente (quando há hoje um peso esmagador da cultura em língua inglesa). Cintra Torres, que considera o trabalho de crítica de televisão como comportando uma atitude de cidadania (tema aflorado por diversos intervenientes, hoje), destacou ainda o facto do encontro ter servido para se falar, pela primeira vez, do exercício de provedoria de rádio e de televisão. Duas ideias mais no texto de Cintra Torres: 1) o facto de a Fundação Oriente infelizmente não voltar a organizar encontros em que a discussão são os media, 2) a necessidade de pôr na prática - e não apenas como intenções - os provedores de televisão e rádio públicas, mas também nas estações privadas.

Leonor Areal falou da sua profissão, dos documentários e das tendências em torno deste, que oscilam entre televisão e cinema. Ela, no momento, está mais interessada em documentário de cinema, onde a atenção do espectador não é tão conduzida como na televisão, obrigando-o a interpretar a narrativa. E defendeu uma segunda leitura na construção do olhar. Um filme é percebido melhor com uma segunda leitura, que nos dá conta das intenções do autor, das suas ligações, no sentido de uma leitura retroactiva.

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Finalmente, Bárbara Coutinho perspectivou a construção do olhar a partir de quem prepara exposições de arte contemporânea e programa acções pedagógicas. Num improviso coerente, a responsável dos Serviços Educativos do CCB (que participou numa das minhas aulas do ano lectivo passado) entende que uma exposição é também uma construção do olhar, pois implica selecção, relação entre peças, suportes de informação, catálogo. Opôs dois modelos de expor arte contemporânea, o do MoMA (Nova Iorque), nos anos de 1930, e o da Tate Modern (Londres), mais perto do nosso tempo, de uma concepção histórica a um diálogo entre épocas, tendências e olhares. E situou a importância dos serviços educativos de um museu, a partir dos anos 1960-1970, que trabalham a construção do olhar nos vários públicos (etários, profissionais, sociais). E defendeu o parar o olhar: momento de avaliar e discutir a importância de uma imagem, nomeadamente a produzida pela arte contemporânea.

José Carlos Abrantes, antes de encerrar, destacaria o peso das imagens fabricadas (exteriores a nós) e as imagens interiores, o conceito de espectador (em Esquenazi), a tecnologia e a educação para os media.

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