terça-feira, 23 de agosto de 2005

OS BLOGUES COMO QUINTO PODER

Vital Moreira, um dos blogueiros da Causa Nossa, escreve no jornal Público de hoje um texto sobre os blogues. Diz ele no começo: "Corre nestes dias uma animada troca de opiniões entre vários blogues nacionais sobre a função e o poder dos blogues, bem como sobre as relações entre eles e os media tradicionais".

Mais à frente, lê-se: "Não falta quem já considere a blogosfera como um novo poder, um «quinto poder», ao lado do três poderes tradicionais do Estado (poder legislativo, pode executivo, poder judicial) e do «quarto poder» representado pelos media clássicos. A função dos blogues deveria ser não somente a de fiscalização dos poderes do Estado - função principal dos media numa sociedade aberta -, mas também do poder dos media tradicionais, quer quanto à selectividade da sua agenda mediática, quer quanto ao seu tratamento. Daí a invocação que alguns fazem de uma função privilegiada dos blogues em termos de agenda setting (suscitar temas ignorados pelo poder político e/ou pelos media tradicionais) e de watchdog (função de vigilância e de denúncia dos demais poderes)".

O que chama mais a atenção para o texto é o que ele diz sobre a importância dos blogues no espaço público: "Dada a incipiência da blogosfera, o maior risco consiste em sobrestimar a sua influência". Afinal, grande parte dos blogues nasce "como simples meios de expressão pessoal dos seus autores. Há blogues de artistas, de músicos, de poetas, de cultores de vários saberes, desde a culinária às ciências ocultas". Os blogues estariam assim aptos, no discorrer de Vital Moreira, para suprir as "insuficiências dos media tradicionais [...] ao nível do local, onde existe um grande défice de pluralismo de imprensa, sendo raros, em muitas regiões, os jornais e as rádios locais".

A receita parece boa. Mas pergunto: uma vez que existem rádios em (quase) todos os concelhos - ao contrário do que escreve Vital Moreira -, não haverá a tentação de transferir para os blogues a mesma cultura de repetição de modelos que existem nas rádios locais (e na imprensa regional). A repetição de esterótipos não livraria os blogues desse efeito de novidade e de quase pureza original.

Sem comentários: