quinta-feira, 23 de junho de 2005

NOVA LINHA EDITORIAL DA BBC

A BBC adopta, desde hoje, uma nova linha editorial. Esta considera que a exactidão (precisão ou acurácia) é mais importante que a velocidade do que se diz. O compromisso da estação oficial inglesa tem a ver com o comportamento mantido durante (e depois) da guerra do Iraque. Também o uso de gravações secretas será escrutinado, no sentido de prestar um contrato adequado com as audiências da BBC (curioso o pormenor do registo: audiência e não público ouvinte ou telespectador). Ética e valor são os padrões que a estação quer manter preservados, escreveu em comunicado Stephen Whittle, responsável pela política editorial da BBC.

Fonte: European Journalism Centre.

4 comentários:

Carlos Sampaio disse...

Se me desculpam a extensão do comentário... anexo reflexão de 2001 quando a a informação "on-line" era "vendida" pela ritmo das actualizações...
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Ao ver a publicidade às páginas de informação que anunciam o "número de actualizações por dia" de forma idêntica àquela pela qual os fabricantes de automóveis anunciam a potência dos seus motores fico preocupado e faço uma comparação. Há uns anos, comunicava-se por carta. Havia um rascunho, uma versão final e seguia no correio ao fim da manhã ou ao fim da tarde. Havia tempo para ler, reler, alterar, corrigir e ter uma certeza razoável de que se estava a comunicar o que se queria. Algumas horas de reflexão.

Depois veio o fax em papel. Batia-se o texto no processador, imprimia-se e dava-se uma última leitura antes de o assinar e enviar. Alguns minutos.

Agora temos o correio electrónico. Num minuto, recebemos uma mensagem do outro lado do Mundo e respondemos imediatamente com cópia para uns tantos destinatários em paralelo. Entre o momento em que acabamos de construir o texto e em que o "disparamos", passam-se segundos. É um processo de uma rapidez e de uma eficiência na transmissão impressionantes, mas quantas vezes não somos demasiado rápidos no que respeita ao conteúdo e a resposta está insuficientemente amadurecida só porque é extraordinariamente fácil responder de imediato?

Tenho por hábito deixar comunicações "sensíveis" prontas em quarentena durante algumas horas para as enviar somente depois de as ter revisto com mais distância. A minha preocupação sobre a informação em "tempo real" é a de que ela é óptima para transmitir "factos"(?!), mas extremamente pobre para transmitir uma "leitura correcta" da realidade. Quantas vezes um "facto" bombástico comunicado "em cima" está errado e a sua correcção passa desapercebida porque não é "bombástica"?

Ou seja, é importante que os órgãos de comunicação apostem na velocidade, mas que não esqueçam um espaço onde os factos sejam apresentados com alguma distância e de uma forma muito mais precisa e rica. Eu, pessoalmente, preferirei ler essa parte.

Anónimo disse...

Sobre este tema, acrescentarei ao competente comentário anterior ( com o qual concordo na íntegra, relevando as suas frases finais), que neste, como noutros temas fulcrais da comunicação na actualidade, deveriam estar presentes os princípios da Carta da Transdisciplinaridade (1994) (1), da qual cito apenas 2 dos seus 14 artigos:

Art. 2: O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por diferentes lógicas, é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da Transdisciplinaridade.

Art. 14: Rigor, abertura e tolerância são as características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinares. O rigor na argumentação que entra em conta com todos os dados é o guardião relativamente aos possíveis desvios. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às ideias, comportamentos e verdades contrárias às nossas.

(1) Publicado em Cadernos de Educação nº 8, pp. 7-9, 23/11/1995, Instituto Piaget, Lisboa, sendo fácil encontrá-la no google

Anónimo disse...

Caro Rogério,

gostaria que me esclarecesse sobre o significado da expressão "acurácia", que não vem no meu dicionário de português. Está apenas a traduzir literalmente (e livremente) o termo "accuracy"? Obrigada.

Rogério Santos disse...

Sim, acurácia em inglês é accuracy. Existe o termo em português. O verbo acurar significa apurar, aperfeiçoar.

A palavra acurácia já foi usada na nossa literatura (incluindo jornalismo) pelo menos na primeira metade do século XX. Se procurar num qualquer dicionário brasileiro encontra a palavra.