terça-feira, 21 de dezembro de 2004

AINDA SOBRE O LIVRO DE NICK LACEY

Já fiz aqui várias referências ao livro de Nick Lacey, Media institutions and audiences (2002). Pela sua simplicidade no tratamento das questões mas, em simultâneo, complexidade nos temas, trata-se de um bom manual para quem queira aprender a lidar com os media e as audiências. O livro de Lacey junta-se a dois outros que ele escreveu para a mesma editora, a Palgrave, na série "Key concepts in Media Studies", Image and representation (1998) e Narrative and genre (2000).

Lacey entende que os media não são simples mercadorias [commodities] mas também artefactos culturais. Multifacetados, podem alcançar o aspecto de objecto raro ou ainda de arte. Por exemplo, uma revista como a Raiz e Utopia, que eu aludia alguns dias atrás, tornou-se um bem raro, dado já não se editar há mais de vinte anos.

lacey6.JPGO autor salienta ainda que há textos criados sem a intenção inicial de gerar lucro, podendo alcançar o estatuto de obra de arte, e textos destinados a uma audiência-alvo e feitos para dar lucro. Ele pensa sobretudo no cinema, pelo que descreve o princípio da mercantilização dos filmes [imagem ao lado: texto publicado pelo autor na internet, no sítio ITP in picture].

Uma das formas de comercialização é a do merchandising. Por exemplo, A guerra das estrelas, episódio 1: a ameaça do fantasma (1999) teve 400 produtos diferentes associados ao filme. Podemos então dizer que o filme fornece uma nova dimensão ao merchandising: este terá atingido 150 milhões de libras comparadas com os apenas 7 milhões nas salas de cinema. No caso do filme Os dinossauros (2000), a Disney terá levado a que a promoção junto da McDonald’s rendesse 150 milhões de dólares. E destaca ainda o relançamento dos filmes da Looney Tunes através da exploração, pela Warner Bros, do canal Cartoon Network.

O merchandising foi fundamental em A guerra das estrelas - agora reeditado em DVD, com três filmes a custarem perto de €70. E,desde os finais dos anos 1990, os gestores de licenças e merchandising acentuaram o seu domínio sobre a edição de um filme, ao envolverem-se mais em cada etapa da escrita desse filme.

Uma segunda forma de vender produtos é através do product placement, no qual um dado produto aparece num filme sem qualquer vontade em o esconder. Assim, se uma personagem aparece no filme a pedir uma Superbock, sabemos que a cervejeira que produz esta marca pagou para o fazer.

Ver os filmes antes da sua estreia oficial é um modo de medir a reacção dos públicos, caminho que tenta assegurar que o filme garanta um êxito de bilheteira. É que tais audiências são pessoas pertencentes aos grupos-alvo a que o filme se destina e uma reacção negativa pode conduzir à necessidade de alterar profundamente a história.

Por estas razões de mercado, o acto de criatividade dos argumentistas e dos realizadores fica condicionado à influência dos gestores de marketing.

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