sexta-feira, 30 de abril de 2004

DOWNLOADS LEGAIS NA MÚSICA

O texto publicado anteontem, dia 28, no Diário de Notícias, e assinado por Nuno Galopim, sobre downloads legais na música é uma peça importante para a compreensão do fenómeno musical dos nossos dias (peça que eu sigo nesta mensagem).

Escreve Nuno Galopim que a venda de downloads de música em 2003 fez com que aumentasse, nos Estados Unidos, o volume de negócios numa área que denunciava fraqueza nos anos recentes. O cenário do futuro do comércio da música passa essencialmente pelo acesso directo a plataformas e servidores on-line. Trata-se, claro, de uma estratégia destinada a estancar a pirataria digital, através da oferta de downloads legais a um preço acessível.

As multinacionais abriram até departamentos de new media, preparando e acompanhando os negócios de venda de música pela internet, para suportes como os ipods, telemóveis ou burning (gravação de ficheiros áudio em CD). E na Europa? O site iTunes espera a aprovação da convenção da "Directiva do direito de autor" e direitos relacionados com a sociedade da informação.

Das multinacionais, a Universal tem 70% do seu catálogo digitalizado e pronto a ceder conteúdos a parceiros (e-partners) ou revendedores (e-tailors). A editora prevê a venda de cada tema a 1,4 euros, baixando para 0,8 euros quando o tema tem seis meses (mid-price) e 0,6 euros quando o tema atinge um ano (budget). No caso do catálogo nacional, estão a ser digitalizadas as gravações no sentido das mais recentes para as mais antigas. Os Madredeus e Mariza estão neste lote. Mas só haverá novidades no final deste ano. A Sony Music e a Warner já têm os seus catálogos totalmente digitalizados, enquanto a BMG ainda não tem uma proposta concreta. A Zona Música vende discos on-line e está a preparar o catálogo para downloads, enquanto a Som Livre prepara a sua proposta e a Loop Recordings reconhece o atraso.

Mas isto não implica o fim do retalho tradicional. É o caso das lojas Valentim de Carvalho, que já mostrou o seu interesse em ter estações de burning (gravação de ficheiros áudio em CD) nos seus espaços de venda.

NOTAS SOBRE A MEDIÇÃO DE AUDIÊNCIAS - PARTE II

O primeiro estudo de audiências em Portugal realizou-se em 1970-1971, por uma empresa chamada IPOP. Até então, não havia simplesmente qualquer informação sobre o comportamento das audiências face aos meios de comunicação. Depois, surgiria uma nova empresa, a Norma, responsável por outros estudos, no período de 1974 a 1980. Nesta altura, surge a Marktest (ver post de 24 de Abril), avançando com o estudo de meios BAREME (Base Regular de Meios), já com o dr. Luís Queirós à frente desta empresa.

Em 1990, funda-se a primeira central de meios, e que se distingue das até então designadas agências de publicidade de serviço completo. Estas tinham duas componentes: 1) criatividade (filmes, spots), 2) planificação dos meios (estratégias: onde colocar, quando, por que custo). A central de meios assume esta segunda componente. Com o aparecimento das televisões privadas (SIC, 1992; TVI, 1993), complexifica-se a necessidade de saber quem vê que programas, para melhor colocação dos anúncios. Até aí, havia apenas dois preços tabelados para a publicidade televisiva: antes e depois das 20 horas. Hoje, a segmentação pode chegar aos 50 preços, atendendo ao horário. Se considerarmos a existência de 200 programas de televisão, cada um com o seu preço, atendendo ao volume da audiência e a sua segmentação por públicos-alvo, depressa se compreende a complexidade e a necessidade de montar um sistema eficaz, para responder aos interesses diferentes dos anunciantes e dos canais de televisão. Ganha corpo o estudo da Audimetria, diferente do BAREME, pois este assenta em entrevistas a pessoas e aquela tem por base uma amostra de lares e um equipamento electrónico (o audímetro).

Dada a sua importância e o controlo, para garantir rigor nas medições, fundou-se em 1993 a CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios), uma associação que avançou com dois sócios fortes, a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes) e a APAP (Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação). Esta última envolve centrais de meios e agências criativas. Para a CAEM entrou um terceiro grupo de sócios, os canais de televisão, interessados na audimetria (RTP, SIC, TVI e TV Cabo), a imprensa (representada pela AIND, actualmente Associação Portuguesa de Imprensa) e a rádio, através da APR (Associação Portuguesa de Rádio). A nível individual, e mais recentemente, entraram a Rádio Renascença, a RDP (agora associada à televisão pública, pois estão integradas numa só empresa) e os operadores de outdoors (J C Decaux, Cemusa).

A actividade propriamente dita da CAEM começaria em 1998, como entidade reguladora dos estudos de audiência, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Marktest passou a ser acompanhado. Em 2000, foi iniciada uma auditoria pelo consultor Ernst & Young, que apresentou o relatório, em 2001, confirmando o bom funcionamento da audimetria desenvolvido pela Marktest. Comprovou-se a existência dos audímetros e da sua fiabilidade, e elaborou-se um manual de procedimentos (amostra, universo), a cumprir escrupulosamente pela empresa Marktest. Esta empresa, ou grupo de empresas, detém a análise de audiências em regime de exclusividade no país, embora entre 1998 e 1999 houvesse outra empresa também a medir audiências (a resolução, após alguma conflitualidade, foi abrir concurso e atribuir o trabalho à empresa que o está a fazer neste momento).

Refira-se que a atenção concedida à audimetria é feita dado que 66% do investimento publicitário passa pela televisão, valor que baixa para a casa dos 20% na imprensa e 10% na rádio. Frise-se que está em discussão o estudo de audiência nos outdoors. O ano passado, com as audiências televisivas a baixarem, houve pressão pelos canais para alterações no manual de procedimentos que classifica a medição de audiências, mas prevaleceu o bom senso pois mudar implica ajustes muito pequenos mas que podem alterar o equilíbrio existente previamente. Finalmente, está em fase de teste um novo tipo de análise da audiência que, a ser aprovado, será implementado apenas depois de 2006, o PPM (Personal People Meter), espécie de pager, e que alterará a filosofia de medição. Deixará de ser um painel de lares para passar a uma amostra aleatória de, possivelmente, mil a duas mil pessoas (como ocorre com o BAREME).

[A partir de uma aula do dr. José de Freitas, director executivo da CAEM]

José de Freitas por ele próprio

"A CAEM preocupa-se e analisa todos os estudos de meios disponíveis no mercado. Referimo-nos à audimetria e aos estudos de imprensa, rádio e Internet e, num futuro próximo, muito provavelmente, à publicidade exterior. Esta análise incide sobre a concepção dos estudos, construção das amostras representativas dos universos, procedimentos a ter em conta e métodos utilizados na recolha da informação, de modo que os resultados finais disponibilizados sejam a melhor informação possível das audiências dos vários meios.

"Estas discussões e decisões sobre processos técnicos, estatísticos e metodológicos assentam em opiniões, normalmente consensuais, para que a informação final seja fiável, fidedigna e aceite por todos os utilizadores dos estudos.

"[...] Deste modo, julgo que é indispensável que exista a CAEM, órgão regulador - esta expressão neste contexto pode ter uma interpretação desadequada, mas vou mantê-la - das exigências a colocar às empresas fornecedoras desta informação, garantindo que temos audiências «bem medidas»" [José de Freitas, 2003, "Expectativas da CAEM em sede da futura regulação sectorial dos media em Portugal", Observatório, nº 8, Dezembro) [comunicação à conferência internacional "Reflexões sobre a regulação do sector da comunicação em Portugal", em 10 de Dezembro de 2003, realizado pelo Obercom e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, nesta escola].

[mensagem acrescentada às 14:02]

[actualização a 11 de Setembro de 2008]

Um leitor atento do blogue fez-me chegar as seguintes correcções a esta mensagem, que agradeço e passo a referir:

1. O primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado, em 1952, pelo Dr. Salviano Cruz, na Revista de Pesquisas Económicas e Sociais (vol.II, Setembro-Dezembro 1952),

2. Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP,

3. A NORMA realizou Estudos de Audiência de Meios até 1990, criou a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os meios de comunicação, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Em 1990, instalou o sistema de audimetria para a audiência de televisão.

Sem comentários: